quinta-feira, 24 de abril de 2014




Choremos pelos vivos, mas não por aqueles que estão já na glória eterna e a quem um dia nos juntaremos.
João Bénard da Costa sobre "Ordet" de Carl Theodor Dreyer

terça-feira, 22 de abril de 2014


"The Thing from Another World", 1951


Entre a dissimulação de “I Was a Male War Bride” e a bravura sem lei nem nome presente em “The Big Sky” Howard Hawks resolveu oferecer um impagável presente a Christian Nyby, o seu montador habitual, e a si mesmo. Foi igualmente o começo de uma nova casa de produção que dividiu com a RKO e com o fiel amigo-inimigo Huges, genialmente apelidada de Winchester Pictures, para esta sua única incursão na Ficção Científica. Nessa jornada invulgar pelo meio do árctico que se calhar hoje é mais conhecida pela fabulosa e apocalíptica carta de amor e catarse que John Carpenter assinou em 1981 ao seu mestre, que é ainda uma adaptação de “Who Goes There?” de John W. Campbell Jr., estão as principais obsessões do aqui creditado produtor: uma missão de alto risco, o enclausuramento, o mundo de homens e a mulher a tentar emergir, as paixões suspensas, uma violência lapidar. E a enformar: a secura, a frontalidade, precisão, economia. E totalmente comum ao todo, a moral: esse laconismo como razão de ser. Não é defender que está aqui todo o Hawks, constelação cada vez mais complexa e múltipla de sentidos, de brilhos e fundos, da mesma maneira que é fácil dizer que num “Fig Leaves” está toda a erótica e comicidade, mas é um dos eixos necessários. Se estamos no terreno do extraordinário, do fantástico ou da antecipação, nada disso faz hesitar esses tipos no meio do gelo que descobrem uma coisa de outro planeta que não o seu. Notam que não foi um avião que queimou uma monstruosa cratera no centro do gelo, rapidamente não encontram lógica, e logo deduzem e aceitam o que os ultrapassa. A coisa, literalmente, começa a atacá-los e a querer sobreviver e montam um plano que é para levar até às últimas consequências: acabar com ela. Homens da vida simples e dura, do exército e dos códigos humanos. Por outro lado, a ciência, esse polo outro representado pelo Dr. Arthur Carrington e a sua equipa, que jura estar perante uma ciência nova, a maior descoberta da história, uma nova civilização de proporções inconcebíveis para as suas mentes. E na sua ode ao desbravar de novos territórios oferece-se ao altar sacrificial pelo maior dos bens da humanidade: o conhecimento, o pensamento, a fonte da sabedoria. E é obviamente a guerra. Numa encenação desenhada como o aço e calcetada a pedra rija, cortante e exata, cheia de sombras que assolam a neve, de muitos túneis de medo e com um lá fora ameaçador, tudo se pensa rapidamente e com uma naturalidade que só pode estar à altura do perigo, angústia em elipse. Logo, a abstração, e o paradoxo, pois se é o Doutor que fala na importância de conhecer e estudar um fenómeno inaudito, é ele quem está mais perto dos terrenos do misticismo e do invisível, um Deus, uma religião, todo o inacreditável. Para os soldados liderados pelo Captain Patrick Hendry, só lhes interessa a natureza e o instinto, algo primário que decorre do visível e do pânico imemorial, a ver com o amor primário. A reversão dos pressupostos e o encontro dos contrários no momento do tudo ou do nada, na inflexão, mundo novo, é aqui a chave e a verdadeira ameaça. Laconicamente, e só nesse sentido producente. Nas misérias e nas festas, o poder de decisão. Ou seja, nós. Por esta convocação de tanto desconhecido e assim negro a uma luz nada delirante de género, onde o visitante nos é apresentado como qualquer um, sem filtros nem ângulos deformados, e onde é a mulher que tenta constantemente o homem, o seduz e propõe o lar, não é a ciência que é vencida, os horizontes rasgados ou a inteligência, mas precisamente o oposto. Mais uma vez, assumindo a importância da redundância ou do eterno-retorno, a questão da resistência, da tenacidade, da crença. Há coisas boas e más e a distinção consiste em deixar de parte os silogismos horrendos e sentir-lhes o fulcro, é isto o Cinema. Isto é, Viver.


sexta-feira, 18 de abril de 2014


"luta do homem pela sua sobrevivência"

 
 
 
 
 
Robert Capa era, dizem os amigos, alucinado como um percevejo, uma pulga eléctrica. Meio louco, meio inconsciente, daquela loucura e inconsciência dos que apostam tudo ou então é nada. Ebulescente e maníaco, ia, com a sua câmara mecânica em punho, os seus ossos, a sua carne, dentes e músculos cerrados e o resto da massa orgânica e emocional até onde o homem testava os seus limites e se deparava com os abismos mais fundos cavados. Um todo onde os olhos comandavam a tensão e sensibilidade, lado a lado na causa, resguardando o medo e soltando o instinto, num espanto que o tornava parceiro do que captava e não mero curioso. Detestava a guerra, por isso mesmo, era lá o seu lugar natural. O outro lado da sua vida dizem que era o das mulheres e o da confraternização, e dedicou outra fatia da sua breve mas intensíssima vida a imortalizar ou a redimir estrelas de cinema e da sociedade, por isso mesmo o tão propalado biopic que Hollywood há muito acalenta pode ser bem perigoso nas mãos dos costumeiros enaltecedores. Pisou uma mina e quem o encontrou morto viu-o ainda com a sua arma em punho. A maior das suas obsessões só à primeira vista o venceu. O que ele dela recolheu é de outra ordem. Continua a ressoar. E a magoar. A avisar.
 
Anthony Mann foi contratado aos palcos do teatro nos anos trinta do passado século por David O. Selznick para o seu reino, pondo-o a talent scout e a casting director. Lá se safou e chegou mesmo a aprender com os artistas de “Gone with the Wind” e “Rebecca”.Ou seja, Cukor, Fleming, Hitchcock, etc. Foi subindo a punho e a promoção chegou, os anos quarenta foram de noirs, fantástico e muita coisa fugidia, seja o surreal de “Strange Impersonation” ou as encomendas estaduais do final dessa década. Avanço e simplifico muito e anos cinquenta foram os dos Westerns duros, desalmados, danados. Com James Stewart, Gary Cooper ou Henry Fonda, a encenação e o mal cravado e espalhado dos ninhos tornaram-se o mesmo corpo maciço. Muito mais para demências próximas de Shakespeare do que para os malfadados realismos psicológicos. Nessas confrontações, ainda antes de recuar muito no tempo até impérios romanos e afins, e já depois de se ter lançado ao Jazz, ousou uma descida aos infernos que funcionou como extensão das incredulidades praticadas no velho oeste cavalgante. “Men in War” é da mesma fibra das questões soturnas e da moral sem guia de Allan Dwan, Walsh ou Fuller quando foram aos campos de batalha incompreensíveis, e é já em si um útil biopic de Capa e de todos esses irmãos de armas que lá estiveram. Ford, Capra, Huston, milhares de anónimos.
 
Cartógrafos desses terrenos impassíveis em que seres humanos desconhecidos se estrangulam, ambos medem as distâncias, sentem os relevos, agruras, sabem o que é uma espera e o ponto de altercação, o tédio e a explosão. Cartógrafos do interior fervilhante e deteriorado que ata coração e tripas, esse terreno outro que se revolve e ajuíza tanto como uma lei ou um bom senso. Descobriram que a tal da personalidade e do carácter tem muito que se lhe diga e pode ficar sem os credos no mais terrível dos segundos. E topógrafos, olhando, vasculhando, estudando os acidentes, todos os acidentes e deformações - dos valores ao que restou das fardas – impondo o seu testemunho com a rispidez e o valor dos actos necessários, vitais. Também honrados e selvagens. Aldo Ray no filme de Mann é um paradigma e o seu contrário, de monstruosidade excedente ao delírio, levando Robert Ryan a confundi-lo com um dos mestres titereiros de um caldeirão lá dos cimos ou dos fundos, até a comparsa fiel e redentor, símbolo de todo o ilógico e contradição da condição. A lógica de não ter lógica nenhuma. Robert Capa na segunda guerra mundial in loco, Mann recriando o conflito da Coreia em Los Angeles, uma mesma força catártica, telúrica e avassaladora que não descura o poder da morte e o poder da vida. Todos os planos, todas as fotografias, todos os disparos, com a sua composição, tomada de vista, angulação, medida, e tudo mais, são tumulares e vivificantes. Já como que debaixo de terra e reanimadores. Apocalípticos, terminais mas eternos, indestrutíveis.
 
Capa morreu mesmo nesse desejo, nessa sua sede de vida pela morte adentro. Mann não traiu nada, não diminuiu nada, não suavizou nem se protegeu, sabendo que quanto mais feridamente pusesse em cena o impossível no seu desenrolar - e há planos tão escuros e granulentos como mais tarde Cimino faria em “The Deer Hunter” que só nos deixam ver os interstícios da morte e assim o seu absurdo anatómico – mais exporia o caos e entreveria, talvez, uma possível cura que é o companheirismo sem interesse e o quadro final. Portanto, são também irmãos, percorreram morfologias e tormentos da mesma ordem, buscando desalmadamente o que não se deixa apanhar e, uma vez por outra, amarrando a impressão limite. Nessa aventura pelo humano no seu grau mais contundente, demasiado. Experiências pares com as grandes Mães que dominam uma casa, os pedreiros que as erguem ou pescadores que arriscam o pescoço sem grandes dúvidas. Onde chegámos, o que realmente importa e as últimas fronteiras.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

 
 
Henry King ilumina “The Winning of Barbara Worth” com um céu total de ebulescência e divindade. Logo depois há enterros, secas, vendavais. E haverá enxurradas, inundações há maneira do Génesis, o mundo a bailar. Composições equilibradas e instabilidades perpétuas. Cada quadro harmoniza ou atropela o próximo ou o distante conforme a sua essência. A renovação e seguimento ternurento da raça. E o demónio do outro lado do espectro. Retrocessos. Homens entre uma só mulher. Heranças. Fardos. Mal do ouro. Ambiguidade do progresso – como a tortuosa ambição e sangue até despoletar o juízo final em “In Old Chicago”, o desbravamento contínuo dos conquistadores de “Captain From Castile”. Resoluções escritas nos altos. Reviravoltas a ferros tiradas. No instante grave, a União. A mistura entre a natura e o aço como “…e de tudo Deus deixou na terra”. De 1926 e com um super Cooper que já é o centro angelical que tudo, ontologicamente ou salomonicamente, enleia a azul. Da cruz inicial que ampara a intocável Mulher ao paradisíaco jardim de que saímos justamente, o maior dos consolos…essa certeza bíblica do primeiro plano que se cumpre até ao fim. Podemos estar descansados.

 
 
"Red Line 7000", 1965
 
 
Pode ser que como escreveu João Bénard da Costa HH tenha aberto aqui a primeira das vias do post-modernismo. Ou, lembrando-me de um texto de resgate de Jesús Cortés no seu blog, se trate de uma das suas obras mais emocionantes, sem espartilhos pulsionais ou elipses atenuadoras. O artificialismo, o “sobrecarregamento”, as séries, a panóplia técnica de efeitos – mesmo sendo secos e directos – no primeiro caso; a paixão inalienável em fundo fatalista, o controlo e compartimento impossível entre o profissionalismo e o íntimo, o vício do risco contra o conforto prometido, argumentos já para o segundo caso. Isto para não falarmos de loosers, errantes, neuróticos e uma violência instintiva que na antepenúltima das suas obras se torna outra coisa ainda, mais abstrata e fugidia, comovente e perigosa. A estrutura é de facto inaudita para a linearidade habitual: três pilotos que se abrasam pela hora de carregarem no acelerador e domarem o volante, mulheres que lhes aparecem, desaparecem e se trocam; suspensão de uma das histórias que corre para apanharmos outra no começo ou nos meios; regressos nada maquinados mas sempre imprevistos e em perda; cruzamentos que não possuem o estilhaço ou afogueamento dos mosaicos do “contemporâneo” mas antes a espessura e peso das correntezas incessantes - aquilo que um especialista consciente poderia aproximar de Joyce e desaproximar de Homero não é tão simples. Teoria que vacilaria imediatamente pela verificação de uma montagem que nunca dispersa, nunca perde a memória e o coração, mas que investe de sentidos, dependências, irmandades e individualismo, ambiguidade complexa, rumo a um painel intrincado na sua despojada frontalidade. Continua-se a andar em frente mesmo no circulatório. E tudo o que cerca e carrega esta tragédia de proporções iguais às do início ou do final de “Red River” – o barulho das plateias e a ordenação do speaker, os números e numerações que abananam, o sortido das cores, a tal da sacrossanta e perfumada borracha queimada, fumaradas, óleos e brilhos que despistam e atormentam tanto quanto os inevitáveis acidentes. Tragédia a que Hawks se atira sem rede, sem cálculo prévio, segurança responsável, chegando-se a terminais terrenos do melodramático, e junto a ele e ultrapassando-o, toca no lirismo. Esse lirismo no seu grau final que combina a sacralidade dos ardores com o funesto incessante. O sorriso e a beleza das mulheres e todo o paraíso prometido / a ameaça a cada ronronar e tentação dos motores frios e quentes que com eles dialogam.
 
Noutro dos raros textos a esta obra que permanece incaracterizável e praticamente escondida, Joaquim Pinto aponta que estamos perante outro caso original - o que não é de somenos no percurso tão complexo e perdido pelas misérias humanas do realizador - ou seja, continua ele, nenhuma das relações encontra saídas definitivas no final. Pinto fala ainda no acaso, esse malvado que tudo parece orquestrar sem justificações ou justiças terrestres para lá do virtuosismo. A sentença capital e potencialmente capitular é mesmo capaz de ser a derradeira, quando uma das mulheres do trio tortuoso reconhece o inferno daquela maneira de ganhar a vida. Essa indiferença em que os tipos do asfalto são como a carne para queimar por culpa própria, e onde elas os aguardam sem certezas como nas guerras. Obviamente perto da incandescência e nudez de um “Today we Live” ou de um cineasta seu perfeitamente contrário, Douglas Sirk, onde o absoluto concorda com a consumição instantânea – é o momento fugaz e eterno daquela corrida ou cavalgada não oficial noite adentro pelas pistas da loucura entre James Cann e a sua companheira, instantes de rara urgência que se seguem ao canto anterior, melodia da entrega, e que perfazem dois dos grandes momentos do cinema. O homem em perigo e a vitalidade disso, sempre, custe o que custar, nem que seja necessário fazer-se capitão gancho ou Edward G. Robinson de “Tiger Shark” e desafiar os Deuses; e a necessária paga, a solidão no tão geral e a dor para além de nós mesmos espalhada.
 
Eles, tanto eles como elas, não disfarçam, não dissimulam, não se encolhem mesmo no medo que aninha, mas abrem-se, agem e falam sem rodriguinhos ou máscaras do sexo ou da confiança, numa verdadeira modernidade que nos chega da origem. Jamais construção feita conscientemente moderna, sim o “The Crowd Roars” em paisagem a caminho do degradamento desse mesmo falhanço modernista, post ou não. “Red Line 7000” pode ser assim como um novo poema ou tratado de outra cavalgada, aquela que nos agarra diariamente, momento a momento, bafo a bafo, para a morte; e a superação, a não desistência, transgressão se necessário, a aceitação, alma. Vai a todas as fatias do tempo e a toda a sua história num único movimento. O excesso latente abranda, trava, derrapa, cala-se perante os silêncios dos olhares e as temperaturas dos desejos. Advém a intimidade do gesto que Glauber Rocha procurou para as suas demenciais óperas. Esse espírito secreto…
 
Aqui, nenhuma novidade a não ser a presença de tantas das questões que nos géneros ampliou, pois HH tanto nos ofereceu documentos pendentes sobre as grandes aventuras, esses gigantismos da nossa musculatura, lembro-me da detalhada sequência madeireira de “Come and get It” que só tem par com a de “Sometimes a Great Notion” de Paul Newman muitos anos depois; como a velocidade irreal e assim sensível de “His Girl Friday”, ou seja, outras fatias de experiência essencial ao todo. A grande lição, tanto para o cinema como para o dia-a-dia, que esta cepa nunca fez distinções, é que o centro pode estar no fluxo e o fluxo no centro, basta olharmos e escutarmos bem. Fazer por inteiro. E qualquer dia a qualquer segundo tudo faz sentido e se sente. Citando JBC outra vez, agora a propósito de outro Running: “…Nessa delirante irracionalidade do amor, apanágio de tão raros.”
 
Combinar o estratosférico, a combustão e o delírio com a serenidade, o desassombro, a certeza. E ser parcial se necessário, comprometendo-se e ignorando. Nem mais nem menos, hoje em dia, Michael Mann. Não só por causa dos seus profissionais, obreiros intransigentes, obstinados, onde tudo o mais parece ficar nas margens da pulsão ontológica. Esses que só respiram com causa, pressionados, em modo tudo ou nada, progredindo no opaco - o fogacho de Robert de Niro em “Heat” com a bela magoada como ele que foi uma das mais intensas gestas de amor. Mas o mesmo: buscar uma verdade onde elas se expõe inteiras pela força e dimensão da circunstância. Toda a caminhada destes destemidos, tão invencíveis, tão frágeis.

quinta-feira, 10 de abril de 2014




I may not know so much
of law, Mr. Felder...

but I know what's right
and what's wrong...

and I know what you're asking is wrong.

Put yourself
in this woman's place, Your Honor.

Can you truthfully say
you'd do differently?

But look at her. She's - She's just
a simple, ordinary country woman.

She can't even write her own name.

Yet has she no feelings, no heart?

I've seen Abagail Clay exactly
three times in my life, gentlemen...

and yet I know everything
there is to know about her.

I know her because I've seen...

hundreds of women just like her...

working in the fields, kitchens...

hovering over
some sick and helpless child.

Women who say little,
but do much...

who ask for nothin'
and give all.

And I tell you
that such a woman...

will never answer the question
that's been put to her here.

Never.




terça-feira, 1 de abril de 2014

Encontros Cinematográficos 2014 - Fundão (II)


JUVENTUDE EM MARCHA
de Pedro Costa
Portugal / França / Suíça | 2006 | 35mm | Cor | 154’
Cópia: cedida pelo autor, 35mm, versão original legendada em português

Quase uma década depois de “Juventude em Marcha” ter irrompido sem aviso, épico e rumorejante, os seus segredos continuam cada vez mais crípticos, a sua construção ainda mais imponente. Da escuridão e estrilho do primeiro plano, à serenidade e apaziguamento do último, um movimento deambulatório que cega perante a repelente e fria brancura de um novo mundo imposto, acalorando-se e sentindo-se em casa na escuridão que ficou dos passados soterrados. Ventura, o Pai e o Guerreiro que não se rendeu, vai escavando por entre os espectros que restaram dos extermínios ao seu povo e à sua terra, e assombrando essa limpeza intolerável com a sua potente sombra. Estátua incrédula que rasga obliquamente as trevas alvas; para estacionar disponível e vertical pelos refúgios clandestinos das emoções dos quartos de família. Figura comum e mítica que na sua obstinação silente e radical produz e autoriza a moral, a distância, a beleza sumptuosamente justa do trabalho de Pedro Costa. Trabalho de mãos, de carne, suor, cérebro, subtileza, risco, onde a câmara que assim trabalha com a luz e os volumes tanto pode ser comparada ao pincel do artista como aos instrumentos dos operários, se utiliza de uma verdade da correnteza e formação do sangue, essa tinta e massa primordial para a vida e para a morte. Companheirismo, Hawksianismo, onde só o pacto e a confiança incondicional entre tudo e todos permite a fidelidade e a emancipação das obras e dos actos íntegros. Arte e vida feito cosmos indivisível, as escalas precisas e os ritmos adequados do cinema; a respiração e a forma que o possibilita. “Rio Bravo”, como as chegadas que importam às estações de comboios, podem acontecer em qualquer lugar, em qualquer tempo.

José Oliveira


Encontros Cinematográficos 2014 - Fundão (I)


Conversa com Pedro Costa

 por José Oliveira


1. Nestes tempos anti-cinematográficos, contrariando  todas as promessas de uma invenção nova que permitiu mostrar os homens e o mundo com a nitidez de nenhuma outra arte, assiste-se ao triunfo da banalização de um ofício que consistia em trabalhar com coisas muito básicas e concretas: luz e sombra, escalas e ângulos, distâncias e tempo. Os Lumière, Griffith, Ford, todo este legado parece não fazer grande sentido hoje. O que sempre achei grande no teu trabalho, e sobretudo a partir de “Vanda”, com as pequenas e não desenvolvidas câmaras digitais, foi não te renderes às tão propaladas e falsas revoluções tecnológicas, a essa velocidade enganosa; mas uma espécie de regresso ao berço, mesmo que assombrado pela orfandade e pela assombração dos pioneiros, esses Pais tão ignorados. Como te apercebeste que esta espécie de velho e de novo não eram coisas incompatíveis?

Não quer dizer que não trate bem da minha câmara mas, no cinema, quase tudo se faz apesar da câmara, para além da câmara. Algumas das coisas mais importantes passam-se sem a presença da máquina. Ao princípio, quando comecei a filmar o “No quarto da Vanda” desconfiei muito destas pequenas câmaras, fiquei preocupado porque podia ver a imagem final imediatamente no écran lcd, desconfiei da saturação das cores, da pobreza do detalhe e da falta de profundidade, da aspereza dos contornos do vídeo... e, pouco a pouco, comecei a esquecer. Mas esqueci tudo isso porque os problemas são os mesmos, quer se filme com uma câmara grande ou com uma pequena. E, por outro lado, também fui esquecendo porque esta bendita câmara me aproximou da realidade e me foi oferecendo os verdadeiros problemas que eu queria enfrentar no cinema. Eu comecei em 97 e havia pouca gente a filmar com estas câmaras. É claro que o Godard, nos anos 70, já tinha usado – e de que maneira - os primeiros equipamentos portáteis. E devo confessar que foi muito excitante ter uma máquina nova, uma câmara que eu podia operar sozinho. Eu vinha de um mundo onde isso era quase interdito. O realizador que quisesse pegar na câmara era sempre advertido; para além do director de fotografia havia sempre uma data de assistentes que se apressavam a avisar que “é melhor não mexer”. Uma rodagem é uma espécie de coutada com as suas zonas privadas. Como também não era suposto o realizador tocar em nada, arrumar nada, pegar numa caixa… aliás parece que ainda é assim: um amigo contou-me que ouviu um professor da escola de cinema dizer a um aluno “o realizador não enrola cabos”... Ontem lá fomos filmar - somos três, como de costume-, e chegámos ao bairro, fomos à escolinha, queríamos filmar com uma miúda, e a professora perguntou “então, onde é que está a equipa?” e eu disse-lhe “somos nós os três” e ela ficou muito espantada, “ No ano passado apareceu aqui o Quim Leitão e trouxe 10 camiões...” Mas enfim, se algumas virtudes estas pequenas câmaras tinham, já foram à vida, violadas e corrompidas. Cada documentarista faz igual ou pior que o do lado, quanto aos da ficção é melhor não falar... É pena porque as máquinas novas entusiasmam-nos muito e, no princípio, aparecem sempre muitas coisas interessantes e estranhas…

2. Por outro lado, a tua rigorosa construção formal não está ao serviço de uma espécie de vazio que fez muita da glória do chamado “cinema experimental”; como King Vidor, tu nunca filmarias paisagens ocas destituídas do rasto humano, fragmentos inertes, o mar ao som de Bach. Encontraste a Vanda e o Ventura e os outros e fizeste deles o centro dos teus filmes no centro do mundo deles. Protegeste-os, engrandeceste-os, deste-lhes o teu esforço e saber e eles retribuíram. Não com a retórica habitual do coitadinho ou do estudo sociológico primário, mas interessado em todas as suas potencialidades e segredos, na sua presença, emoção, a sua ficção. Permaneces um clássico?

Clássico, não sei... mas é verdade que aprendi pouco com o cinema experimental. Sempre preferi o cinema mais narrativo… Aliás, toda a arte experimental - música experimental ou teatro experimental - sempre me aborreceu. Enfim, o que eu faço não atrai multidões de espectadores, por esse lado estamos juntos, quer dizer, estamos condenados à mesma pequena margem, à recepção crítica “séria”, à universidade e mais às galerias e aos museus... e em Portugal são sempre as mesmos 1000 ou 800 a ir ver filmes, concertos, peças, etc… O cinema que me interessou mais e que me formou era o cinema mais popular, o chamado cinema clássico americano. Talvez o tenha misturado com o meu gosto pela história, que é a disciplina de onde eu venho, com a antropologia, com a arqueologia, até. Na história não nos podemos permitir certas divagações, digamos assim, a história nunca permite assim tanta experimentação… ao contrário do que se possa pensar, a história – o tempo - não nos dá direito à dissipação. O gosto pela história pode sensibilizar-nos para a própria tragédia da história. Aliás, acho que é isso que tem desaparecido do cinema: o sentimento trágico da história. É claro que a minha história não é a grande história, a dos grandes épicos de Hollywood, a das grandes batalhas, das grandes conquistas, dos acontecimentos “históricos”. Eu procuro restos no caixote do lixo da história. Começo pelo mais pequeno, uma porta, um corredor, um par de sapatos, um balde, perceber quem mora ali, como mora... ficava a olhar para um homem que ia ao vinho e que coxeava muito, cheguei à fala com ele, era o Juninho, que tinha um andar balanceado, uma mistura entre Monsieur Hulot e Doutor Cordelier, e foi ele que me falou da enorme percentagem de mutilados devido aos choques eléctricos que apanhavam quando subiam para fazer puxadas aos cabos da EDP. Ele tinha ficado com um lado paralisado. A nossa história começou assim.

(Nunca pões um dispositivo à frente do que encontras, das pessoas…)

Hoje em dia é tudo muito inseguro, há pouca convicção e ousadia, os cineastas estão muito inseguros, há pouca gente a ver com atenção esses filmes do passado, esses a que tu chamas clássicos. E parece-me que as pessoas têm outras razões que as levam a fazer filmes… as motivações são diferentes e o cinema tornou-se uma actividade consideravelmente diletante. Vejo pouco trabalho, pouco esforço, pouca dedicação, há muita facilidade, qualquer plano cola com outro, vale tudo. Também pudera, agora os filmes sobrevivem ou morrem às mãos dum circo internacional de sales agents, fiprescis e festivaleiros invariavelmente idiotas. Promovem as maiores barbaridades e vivem eternamente com o amor do cinema na boca. Parasitas. Já não são as mesmas razões que me levaram a mim ou os da minha geração ou levavam o Reis, o Oliveira, o King Vidor ou o Godard a fazer filmes. Os filmes agora são desenhados, quase não precisam de ser filmes… há uma grande irrelevância. Nesta altura da conversa dá sempre jeito trazer o Warhol aqui para ao pé de nós. As pessoas têm na cabeça uma imagem feita, acham que os filmes dele são leves, cult e pop e trash, e que o próprio Warhol não é pesado, não é um intelectual, um teórico... Ora ele é um cineasta com um único interesse, com uma ideia fixa: o género humano, a humanidade, nas suas tristezas e alegrias, misérias e virtudes. Se repararmos bem, constatamos que ele raramente fez coisas em que o humano não estivesse presente, mesmo o “Empire”, aquele filme monumento ao arranha-céus... há poucos filmes em que mais se sinta a força da mente humana, dos braços, do trabalho dos homens. E o poder do dinheiro. Há nele uma gravidade comovente. Se virem as fotografias do Empire State Building feitas pelo Lewis Hine - um fotógrafo e sociólogo norte-americano do princípio do século vinte - verão como são coisas que partem do mesmo interesse e do mesmo entusiasmo.

3. Ainda relacionada com a questão anterior, e agora pensando na nossa cinematografia recente, acho que se tem banalizado, a par das formas, o Homem, a raça, a sua força incomensurável. João Nicolau, Miguel Gomes, à maneira de um Wes Anderson americano, têm pegado em actores algumas das vezes talentosos, noutros casos até em não actores com todo o potencial intacto, para os diminuírem, muitas das vezes para os ridicularizarem, meros bonecos macaqueados sem causa, destituídos de qualquer humanismo em circos da nossa vergonha. O triunfo do pop, do kitch, da geração cool, a nossa regressão em tom festivo e orgulhoso. Ventura, o centro do filme que vamos ver, surge-nos com a grandeza do Sargento Negro de Ford, a altivez dos Príncipes e dos Reis, a humildade do Fonda nas “Vinhas da Ira” ou de um comum entre comuns. A modernidade é encontrar o que importa e estar à altura disso?

Creio que são interesses diferentes... o que nos faz imaginar um filme ou tentar arranjar dinheiro para um filme ou enquadrar um plano... podem ser mil razões diferentes para mil realizadores diferentes e, de certa maneira, é esse o problema do cinema contemporâneo. Só posso falar por mim: detesto e rejeito a estrutura económica e social sobre a qual o cinema está instalado, é uma base falsa e hipócrita. E, como já disse, eu não preciso de guiões nem de ter ideias próprias. Prefiro correr o risco de não encontrar nada e de não filmar nada do que submeter-me às patetices da vida corrente do meio artístico... E no meu trabalho, se não conseguir fazer o plano tentarei outra vez amanhã, e se não conseguir deve ser porque o plano não existe... ao mesmo tempo, é provável que tenha encontrado mais quatro ou cinco coisas que me interessaram, que tenha conhecido pessoas interessantes... estou no sítio onde quero estar e é aí que me formo e informo. Em quatro ou cinco ou seis horas acontecem muitas coisas: um bêbado que cai para o lado, a ambulância, a dona do café que regressa da visita ao marido que está no Linhó, as cozinheiras da escolinha que se põem a imaginar a ementa para o mês seguinte... Não é assim que trabalha o Wes Anderson que é um americano, talentoso, que tem uma boa cota nos mercados. E sociologicamente é um facto: as pessoas, os jovens das grandes cidades, precisam mesmo dos filmes dele. E ele tem que corresponder, fazer mais e melhor da maneira que ele imagina terem sido feitas, por exemplo, as canções dos Kinks ou dos Beatles ou os filmes do Truffaut. Deve ser um tipo muito angustiado, enfim deve sofrer duma angústia de sentido único: como surpreender? Preciso de surpreender mais! Mas como diz o outro, cada um tem as suas razões. O pior é o lastro que isto deixa... alguma gordura, o decorativismo, um humor universalista e aquela candura infantilóide...  Mas eu acho que as escolas de cinema também têm muitas culpas, a nacional e as privadas, as horríveis lusíadas, católicas, etics, etc. E não temos crítica. Há uns moços de fretes. As pessoas que escrevem bem e que deviam estar nos diários e nos semanários não se querem meter nisso... Fazemos filmes porque vimos certos filmes, não há muito mais do que isto. O que por aí se vê não é brilhante, o cabo, o cineclube da zon... E depois, ao contrário do que se diz, é cada vez mais difícil ir à cinemateca, é difícil encontrar os filmes, é muito complicado. Eu estou nos arredores de Lisboa há muitos anos e ninguém tem qualquer relação com o cinema. Há um bocadinho com a música, lá vai servindo para comentar ou avisar ou informar. Não há grupos de teatro. Não há a chamada cultura popular, a educação através da cultura, as próprias associações de moradores ou de bairro ou desportivas tornaram-se agências de emprego e lares de reformados idosos... Não admira que o fosso se alargue todos os dias e que, em resultado desta devastação e do seu folclore, certos filmes interessantes possam parecer muito pesados e difíceis, parecidos com coisas etnológicas ou sociológicas…

4. A realidade pela realidade, o conceito do directo ou a quimera da verdade, os dispositivos inteligentes, esse documentarismo fácil e informe às três pancadas que tanto barulho tem feito pelos festivais da moda e na crítica displicente, não me parece que te interesse minimamente. Pelo contrário, trabalhas e retrabalhas cada cena, cada movimento, palavra, recorte luminoso ou dimensão sonora. Compões, desprezas o naturalismo mais imediato; vais com as histórias dos que filmas, as memórias, a própria História do nosso país e de assombrações imemoriais, ajustas um poema de Desnos a uma carta de amor de um homem a uma mulher, arriscas um punhal cravado numa porta sobre um aviso como no Western mas ao mesmo tempo sentem-se as coisas inteiras e o seu peso. A realidade só te interessa pelas suas possibilidades de revelação, transfiguração, abstracção? Uma outra verdade que não se desvenda à primeira?

Há tantas coisas que não se percebem à primeira, que não se vêem ao primeiro olhar. Eu desconfio da primeira ideia e, quase sempre, da primeira imagem. Resisto muito à primeira coisa que me passa pela cabeça. Tenho de passar muito tempo nos lugares antes de filmar, gosto de observar e de conhecer as pessoas e tenho que pensar, duvidar, hesitar. É esta a verdadeira experimentação. E, sobretudo, tenho que pôr à prova a minha convicção. Quero dar corpo a uma ideia, sim, quero engrandecer as pessoas e os sítios. Mas tenho que pôr essa ideia, a minha imaginação, à prova. E por vezes é difícil porque certas ideias não resistem perante determinadas pessoas e o espaço é sempre mais obstinado do que nós imaginámos... Não se pode filmar tudo. Não é apenas uma questão de desejo ou de dinheiro. E o guião não é razão de coisa nenhuma. Por vezes não há razão que sustente um filme. Este método é muito cruel, chegamos ao ponto de concluir que há filmes a fazer mas também há muitos filmes a não fazer.
Tento sempre partir do concreto para conseguir... não sei se essa abstracção de que tu falavas... Tento partir das mais pequenas coisas, lugares comuns: construir uma casa, comprar batatas, ir à visita ao hospital, acordar, lavar uma escada. Volto ao princípio da conversa, ao gosto pela história: o que me interessa e me entusiasma é o mesmo que interessa ao comum dos mortais, ao Ventura ou à Vanda, é construir. A gente constrói - a palavra construção, ao Ventura, cola-se-lhe à pele - associamos uma série de coisas, recordações, palavras, locais, objectos, compomos uma longa cadeia sentimental que vamos usar para construir o filme. Depois vem o momento de passar à acção e não se pode ceder nem cair... tudo depende da tensão da nossa construção, do trabalho da argamassa bem remexida, do tijolo bem colocado, laje contra laje. Deve ser este o primeiro e o último interesse de qualquer cineasta, de qualquer músico, pintor, escultor, actor...
Quase toda a gente associa a construção à escrita do chamado “argumento”, ao guião cinematográfico. Não é nada disso. Quando falo em construção estou a falar do filme, das suas imagens e dos seus sons e das relações e ligações entre eles. Não estou a falar das palavras nem da linguagem – ao contrário do que ensinam nas escolas, o cinema não é uma linguagem – não estou a referir-me ao texto escrito nem aos diálogos. Acho que era o Fritz Lang que dizia que a ficção só se torna forte quando encontra o documentário. Pensemos no “Man Hunt”, por exemplo. Mas também pode ser o contrário: o documentário “só lá vai” com a ajuda da ficção, isto é, com o esforço duma construção. E carregamos uma herança muito estúpida que nos vem dos anos setenta ou oitenta: as pessoas ficaram com a ideia de que o cinema é uma arte visionária... por ser uma arte de imagens e de imaginação, porque qualquer imagem se pode cortar, fundir, dissolver, transmutar noutra, porque um filme pode ajudar a pessoa a projectar-se no futuro ou no passado... o cinema é quase como uma espécie de profecia. E isto deu licença aos seus criadores, aos artistas, aos autores e aos críticos para dizerem os maiores disparates. Cada realizador tem a sua visão do mundo. Se não a tiver, terá de a arranjar... e haverá sempre ensaístas para improvisarem sobre a obra, seja ela um modesto documentário ou um épico intergaláctico. Hoje em dia, contam-se pelos dedos da mão os cineastas que não têm uma visão do mundo. São os que têm um olhar. São os que contam.

5. Escolheste para acompanhar o teu filme um dos exemplos mais acabados e convictos de Jean-Marie Straub e Danièle Huillet. Nunca te afastaste deles, falas sempre deles, mas tens falado também muito do teu interesse por um Fleischer, por Wang Bing. Que cosmos é este?

Os filmes da Danièle e do Jean-Marie são dos que mais me interessam, mais me perturbam e me entretêm. Podemos voltar a eles e revê-los vezes sem conta. Suspeito que até este tipo de fidelidade esteja a desaparecer... agora passa-se de um filme a outro, de um realizador a outro, de uma paixão a outra com um pequeno click... e isso fez nascer olhos e cabeças diferentes, outro género de raciocínios e de desejos. Escolho os filmes deles porque têm sempre relação com momentos e circunstâncias da minha vida. O “Nicht versöhnt” - como o “Machorka-Muff” - são muito raros. Nunca saem das prateleiras das cinematecas. Passaram a existir apenas numa espécie de limbo cultural, cinéfilo. Por causa da forma ou da duração, são filmes que não tiveram uma verdadeira oportunidade para encontrar públicos de jovens. É isso que espero sinceramente: que um rapaz ou uma rapariga do Fundão entre por acaso na sala e leve um valente susto:“ mas que raio de coisa é esta?” Não é que eles tenham inventado nada de novo mas trabalharam muito e trabalharam muito bem. São bons construtores. E proporcionaram uma economia que podemos aproveitar. O “Nicht versöhnt” tem inúmeras qualidades, é um filme visualmente impressionante, em que cada ângulo de câmara, cada enquadramento, cada corte corresponde a uma emoção sempre muito forte. Tem uma concisão magnífica. E não há como este filme para nos lembrar a tragédia da história. O que se passou há cem anos está-se a passar agora e vai-se passar daqui a cem anos. Não há passado nem futuro, vivemos, trabalhamos e morremos sempre no presente.