quarta-feira, 10 de junho de 2015



"Taza, Son of Cochise" (no 2d estonteante, vertiginoso, inclassificável a que tal cineasta nos habituou) é de uma beleza mortal, precisamente porque não a exibe nem faz dela primeiro plano, antes existe pela dependência dos vários elementos compositórios. Ar, montanhas, céus e homens em vínculo extremo e inegociável. Um cegante brilho dissemina-se entre dias e noites, denso e difuso, nessa cara carregada de choro e riso travado ou abrupto; são os grandes corpos revoltos na sua singular manifestação. Muito mais do que o exotismo de Douglas Sirk metido no Western, é ele mais uma vez defronte dos irremediáveis estatutos e tensões que compõe a raça e a sua divisão. John Ford é a totalidade, o humano e o entorno fixo e focado até ao ínfimo e infinito, pelas danças e pelos massacres, para se ver inteiro como no dia do parto. Sirk quebra essa unidade, instala-se na brecha e na falha consequente para observar por dentro os mecanismos, até à detonação e renascimento. (Isto nada tem de transcendente ou de intelectualmente elevado: Ford agarrava dos cavalos até às montanhas e ao infinito; Sirk interessava-lhe era estar entre as castas humanas, mesmo no centro deles, metido.) Daí está intacto o lirismo dos seus grandes painéis posteriores já em aparente civilização acabada. O apocalipse final não contem demagogia ou heroísmo cinemático, antes tragédia antiga. Do mais americano dos géneros à americana melodramática de "All That Heaven Allows", o obstinado e inato orgulho, virar de cara às visões espelhantes. Sem contemplações ou partidos, como as verticais físicas que se impõe e abarcam na magnifica horizontalidade que de tão pura parece ascender ao metafísico. Físico e metafísico, a carne e a alma, o misterioso que a isso preside, intemporal. 

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