terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Fantas Porto II


No Country for Old Men

Não é que eu tivesse muito excitado com a estreia do filme dos Coen, já era o meu 3º visionamento.
Mas arrumando já a questão: é o melhor filme dos Irmãos Coen.
Sucinto, right to the point, e sem os maneirismos dos últimos filmes, é uma obra-prima de um radicalismo que já não julgava possível no cinema americano – o sangue e o niilismo, que serão o foco do filme, irão estourar muitas vezes.
São de factos dois mundos, dois pólos distintos, um numa ponta e outro do lado oposto – o velho e o novo.
E esse confronto, entre os homens que executam o que é preciso, lacónicos, quase sem palavras ou expressões, frios e letais, falando sempre a verdade – por mais verdadeira e sinalizadora dos tempos que correm – e os velhos do Oeste, carregados de valores, que estão a ver algo de novo – “quem adivinharia isto há 20 anos” – é tratado com a sabedoria e a classe dos objectos perfeitos.
Ou também, simplesmente: os grandes espaços do Oeste, uma espécie de larguíssimo scope, seco – a não musica é um achado – e os prédios frios das grandes corporações, os elevadores, etc…
E essa dicotomia vai percorrer o filme todo, não só a personagem de Bardem e a sua presa, como já dentro do próprio País de velhos – o confronto entre Lee Jones e o jovem ávido de fazer coisas é tratado com uma ironia e um humor, que contém, também, todas as marcas do melhor cinema dos Coen.
E o filme é isto – seco, quase sem palavras e com muitas acções, o que equivale a dizer – rasto de sangue e procedimentos que aniquilam o país dos valores, dos velhos homens do Western.
Duas personagens para ficar, e que resumem o filme: Bardem, mistura entre Nosferatu e o Exterminador de Cameron – aí aquele canhão – glacial, sem qualquer sinal de tradicionalismo, é o mais do que novo, com uma filosofia incompreensível, muito própria, que só pode pertencer ao presente mais do que puro.
E Jones, velha raposa, Cowboy de um Oeste já utópico, cheio dos valores que fizeram uma América que parece já não ser possível.
Para finalizar, o lado, por vezes metafísico, ou meta-qualquer-coisa do filme, são as acções e as filosofias incompreensível, um qualquer Nietzche, e o acaso que aparece aqui tratado em hipérbole – aquela perseguição que parece ir contra a própria natureza…o jogo da moeda que é enervante, e muito mais enervante quando fica em elipse, o tal jogo cerebral mais gelado do que os graus negativos, e certos pormenores quase Biblicos – que animal era aquele que aparece pelos binóculos de Brolin? – bem como uma atmosfera que parece já mudar com a acção dos homens novos.

Repito: é o melhor dos Coen, cinematograficamente potente, genialmente fotografado e com uma gestão dos tempos e dos espaços absolutamente apurada.
E que não se esqueça o também fabuloso Brolin, talvez a mais típica personagem do universo dos Coen.
E a finalizar: é necessário conhecer o que está para trás, pois o filme está recheado de subtis lançamentos e referências para os seus filmes anteriores, o que me provocou o riso antecipado muitas das vezes.

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