terça-feira, 8 de abril de 2008

la belle


Maravilhosa a versão de “La Belle noiseuse”, de Rivette, na sua versão integral – 236 minutos.
Desde a primeira imagem é o francês a cinzelar numa realidade pura, em bruto, num lugar de respiração prodigiosa.
É todo o cerne desta arte de esculpir na realidade, de emergir um primitivismo antes de tudo, a arte do não enfeite, do som, da bruitage sonora directa, etc...
É o cinema a filmar a pintura e todas as suas questões e a pintura a dominar a imagem com as suas especificidades.
Filme de uma sensualidade pacificada, misteriosa, dúbia, é também um possível cume da arte da duração.
Rivette dá-nos tempo para a contemplação total, da pintura, dos gestos, dos corpos, dos desesperos e das impaciências.
Se alguém quiser aprender a arte da duree, este é o filme.
Depois é toda uma Emmanuelle Béart com um passado denso e difícil de descrever, são as suas poses Mizoguchianas, o seu temperamento e instintos.
É Michel Piccoli no papel de uma vida, homem que reencontra a mulher e volta a despertar todos os fantasmas, prodígio de fragilidade.
É a sua verdadeira mulher que tudo sabe, sente medo, prevê sempre o abismo, é o marido de Béart e a sua radical mudança…
Filme central do cinema, obra sem par nos anos 90.

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