segunda-feira, 28 de abril de 2008

Spellbound


Sobre Spellbound, 1945, filme realizado cinco anos depois da chegada á América do prodígio Inglês, muito se discuti, bem vistas as coisas, nunca foi dos filmes mais apreciados de Mestre Hitchcok.
Os defeitos vão desde uma história inverosímil a uma fraca interpretação de Gregory Peck, resolução premeditada, braço de ferro com David O. Selznick, etc…
A “coisa” mais que se costuma louvar é a sequência do sonho desenhada por Dalli.
Lembro-me de Benard da Costa o ter inserido, aqui há uns anos, no ciclo Hitchcok, na rtp 2, foi o único que falhei, mas ele disse muito bem…
E é óbvio, é coisa grandiosa, ao lado de qualquer um dos grandes.
O mais impressionante é a forma como elementos tão completamente fugidios, escuros e dispersivos (psicanálise, sentimentos de culpa, bloqueios, etc…) são de tal modo emplacados, inserido numa dureza formal em que o quadro nada mais é (e é tudo) que o espaço onde todas as sombras e interrogações habitam e dentro dele (no quadro) são fechados para hiperbolizar o questionamento e aumentar a pressão aos limites.
A tal ciência da mise en scene aplicada á ciência de curar o pesadelo, ou seja, tudo é justo, cada enquadramento e movimentação de câmara é essencial e moralmente incorruptível. Culpa/medo/; Hitchcok; Lang. O oposto, por exemplo, da tentativa redondamente falhada do último Coppola (WHW).
Gregory Peck está perfeito no homem que primeiramente convence, mas que logo depois, revelado o mal, transmite dolorosamente aqueles momentos em que o raciocínio e a lucidez são sugados, para lhe inserir pulsões desconhecidas que o deixam de rastos – arrepiante interpretação.
Depois o final muito pouco interessa, o mestre parece marimbar-se e pôr a claro o cerne da sua crença ética/formal: a tal perfeição da forma que logo se dilui/destrói para emergir o centro filmico.
É como se toda a obra engrenasse ou girasse sobre o famoso mcguffin, para nos dar um sublime estudo dos casos clínicos em questão e uma magistral lição de pôr em cena.
Sim, pois aquela descida na neve ombreia perfeitamente com o maior dos momentos altos de outro seu qualquer filme.
Para além da sequência surrealista, todo um mundo do humano e de cinema.

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