segunda-feira, 12 de maio de 2008

Decepção violenta, Shine a Light é um filmezinho-concerto sem fogo nem gás. Digo-o eu, um grande admirador do cinema de Scorsese, que considera The Departed, o filme anterior, fabuloso. Nesse filme, a cena entre Di Caprio e Vera Farmiga, em que Scorsese desmultiplica a narrativa ainda há-de ser considerada um dos grandes momentos do cinema do Ítalo-Americano.
Rolling Stones (e tudo o que eles acarretam), um palco grandioso, imagens de arquivo e a dificuldade de juntar tudo isto.
Ora bem, o cinema – as imagens e os sons – de Scorsese, mesmo nos momentos de acalmia, sempre se regeu por pulsões e abismos vertiginosos e por vezes terminais, e sim, muitas vezes os Stones ajudaram a criar os embates.
Desta vez a “coisa” era literal e o objecto tinha tudo para explodir, ou então o contrário, ficar como uma problemática, objecto teórico, de algo difícil de aglutinar.
Mas o programa é demasiado linear, simplista e sobretudo pueril e inofensivo. Mesmo aquelas propaladas imagens a preto e branco, a dúvida do cineasta, qual 8/2, soa demasiado a embuste e a pré-fabricado. Está lá tudo, o grão, a câmara a tremer – para justificar todo o estilo documentário – o tremendo speed da improvisação, etc...mas sentimos que é introdução puxada, que poderia ter sido filmada aparte, ausente da gravidade da chegada da hora.
Depois chega o concerto e a linearidade é total, é que nem as formas – angulações, luz, soluções visuais, etc… – são muito interessantes, salva-se Keith Richards nas suas acrobacias, ou, por vezes, Jagger e as entradas, mas é tudo muito pouco. Mesmo a montagem, que talvez seja um dos grandes domínios de Martin, é rigorosamente funcional e quase académica, falta Telma, falta tudo...e, por vezes, parece televisão…
Os interludios de imagens antigas da banda são igualmente adivinháveis, sem surpresa nem acrescento, tudo é programa – é todo o esperado, sem rasgos. O melhor do filme, e era bastante mau se assim não fosse, é mesmo a qualidade sonora. Pois o plano final é aberrante, longo e desnecessário, e poderia, ohh como poderia, ter ficado como uma joissance ao seu talento no que à construção do plano sequência diz respeito. Chegamos a pensar em Raging Bull, mas logo a subida da câmara ao infinito estraga tudo.
Dito isto Martin é um dos meus três cineastas favoritos.

5 comentários:

  1. José:

    Ainda não vi.

    Mas viste o 'Neil Young: Heart of Gold'? Grande, grande filme de um grande, grande cineasta (Jonathan Demme).

    Cumprimentos

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  2. não vi, com pena, mas espero ver.

    Cumprimentos.

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  3. Não percas. Vê em DVD. Vale a pena: um filme-concerto com uma verdadeira mise-en-scène.

    http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=5501

    Abraço

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  4. obrigadissimo mesmo, gosto muito do Neil Young e do Demme. Mas depois diz o que achas-te do Shine a Light.

    Abraço

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  5. Hei-de ver, claro. Mas eis um comentário preliminar.

    Com Scorsese, é sempre uma linha muito ténue entre a exuberância e o exibiciocismo. Por isso é que o cinema dele é tão arriscado. Por isso que é o cinema dele por vezes falha.

    O teu comentário reflecte isso.

    Abraço

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