segunda-feira, 16 de junho de 2008

sentir qualquer coisa...


Simples, simples. E “Il Deserto rosso” é a prova cabal. No terreno da alienação e da falta de sentidos, fé, futuro, etc…Antonioni é talvez o máximo, mesmo o único dos cineastas que conseguem, através das imagens e sons, e sem resquício de psicologismos, de gordura visual, dar sentido e edificar esta dolorosa empreitada.

Os homens e mulheres que habitam os espaços e as paisagens – paisagens desoladas, áridas – são, mesmo com tudo isto ou nada disso, as mais brutalmente carnais, uma bruitage puramente humana e física que impressiona. Espécie de cruzamento entre os seres de Bunuel e Hitchcock perdidas no cosmos.

É o que o afasta da ficção científica barata e em forma de apêndice desnecessário, é osso, só osso, essência e depuração. Directamente, neste terreno ficam destapadas as metafísicas e debruados de Tarkovsky ou o embelezamento/excesso de Bergman.
É: a arte da simplicidade sobre a dor inadaptável, o que equivale a referir que é a mais difícil das artes.

Isto é: Antonioniano.

(Se bem que Zurlini é essencial)

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