segunda-feira, 28 de julho de 2008

ALONSO


As imagens e sons de Lisandro Alonso vêm do primitivismo, uma construção completamente artesanal.
Reparemos em La libertad, 2001. Vamos seguir, durante um dia, a vida de um lenhador, algures na Argentina profunda. Vamos estar junto dele e da natureza que o envolve, notar os seus gestos, o seu andar, o modo como corta a lenha, como faz um negócio ou acende uma fogueira.
Só nos iremos deparar com mais três seres humanos, a primeira troca de palavras acontecerá somente aos trinta e dois minutos de filme.
Nem documentário, pois sabemos que existe alguém a orquestrar finamente os percursos e os actos. Nem somente ficção, tal a quantidade de acaso que irrompe e a liberdade que – e isto sente-se – estão envoltos os modelos do filme e as formas utilizadas.
Lições importantes: nunca empolar a forma e a técnica perante o que está à frente da câmara – abolição de decalages. Trabalho do som como algo vital, elemento tão prodigioso como a banda imagem. A essencialidade do fora e o tempo necessário.
Se o cinema serviu para captar a vida dos homens e a respiração do meio – os Lumière, em primeiro lugar – bem como acreditou que o melhor ângulo ou a luz correcta serviria para aprender o sentimento e a quantidade de humano – Ford acima dos outros – este é uma peça desse ética e dessa crença.

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