segunda-feira, 14 de julho de 2008

noveleiros

Confesso que já não lia o blog do António Pedro Vasconcelos, realizador bissexto e comentador de futebol, há uns bons meses. Tinha-me esquecido.
Volto lá e…pior do que nunca, disparate atrás de disparate, contradições monstruosas do que antes defendeu e do que agora defende, a chamada “dor de cotovelo”, ou inveja, na máxima expressão. Uma abjecção.

O homem que no passado assumiu a filiação dos rebeldes da Nouvelle Vague, admirador de Fuller, Ray e Kazan, produtor e admirador de Oliveira, etc…hoje é realizador de uma mercadoria indistinguível de qualquer telenovela pornográfica - Call Girl.

Ora, como se não bastasse, escreve que João Bénard da Costa atacou vários cineastas (et pour cause…), que Godard se refugiou na suíça depois de falhar o golpe a Hollywood, e que Oliveira há vários anos produz objectos insuportáveis.

O que ele sabe, pois é mesmo assim (foda-se), é que João Bénard da Costa não liga patavina aos seus filmes pois sempre escreveu sobre cinema cinema, e nunca, mas nunca, sobre produtos sub-televisivos em que a jovem nua serve para vender pipocas e para os jovens voltarem.

O que ele sabe é que Godard se tornou a personalidade mais decisiva, do cinema e da sua critica, no século XX. Todos os continentes incluídos.

Um facto é que não só a Europa, mas um mundo, tal como Pedro Costa (se tiver dúvidas que me escreva que eu mostro-lhe) aclama de maneira entusiástica todos os filmes de Oliveira.


Nada contra A.P.V preferir a produção americana, mas ao menos que admita a sua inserção na máquina da estação de José Alberto Moniz e que deixe o cinema europeu, e o cinema tout court, sossegado.

10 comentários:

  1. Tive uma discussão com A.P.V. durante um encontro que ele teve no auditório da Escola Superior de Teatro e Cinema para discutir os subsídios em Portugal e falar sobre o Call Girl com os interessados.

    Ora a coisa começa logo mal quando ele diz que o seu Call Girl não tem nenhum cliché e que os críticos do Expresso e do Público não percebem nada de nada. Pouco depois, diz que João Lopes não diz nada sobre cinema nas suas críticas, e aqui já estou incomodado, mas fico em silêncio.

    Depois chega o clímax, a dizer que Belle Toujours e O Capacete Dourado são 'objectos inenarráveis'. Pergunta quem é que viu Belle Toujours e só eu e uma amiga minha colocamos o braço no ar.

    APV: E gostaste? Diz-me sinceramente.

    Eu: Adorei.

    APV: Mas isso é impossível! Aquilo não é Cinema não é nada. E aquelas prostitutas, o que é aquilo?

    Eu: Pois eu acho que ali há muito cinema e muitas ideias cinematográficas. As prostitutas são brilhantes, burlescas, e tamb...

    APV: É impossível, tu não gostas daquilo, não podes gostar!

    Eu: Desculpe, eu ainda tenho capacidade de saber o que gosto, e se eu lhe digo que gosto genuinamente de Belle Toujours é porque gosto mesmo. Não pode aplicar assim uma qualquer política do gosto que ainda há bocado estava a criticar.

    E bla bla bla, a discussão continuou nessa onda. Foi aí que ele disse que era completamente contra o sistema e contra o ICA. Duas semanas depois, José Vieira Mendes, agora parte do júri do ICA, chama-lhe 'O Cineasta do Sistema'. AHAHAH, genial, no mínimo.

    p.s.: Belle Toujours foi aprovado pelo ICA em vez de Call Girl, que por sua vez foi aprovado apenas no ano seguinte...

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  2. Genial essa discussão. Dá para ver o nivél e inteligência desse homem.

    Cump.

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  3. "E aquelas prostitutas, o que é aquilo?"

    É o "naturalismo" como palas junto aos olhos. Primário.

    (APV perdeu a memória do cinema, a relação com a sua rica história e diversidade estética. É triste.)

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  4. Mais...

    Como o Carlos diz, há uma terrível arrogância no modo como APV afirma ter a certeza que "Belle Toujours" não pode gerar prazer. Estamos a falar dum divertimento que revisita personagens dum clássico. Só a própria ideia já dá prazer a um cinéfilo contemplar. Ele não devia falar pelos outros.

    APV não encontra no filme a tintilação criada pela mais informe ficção portuguesa. Ainda bem.

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  5. Sem dúvida Sérgio, mas o que conforta é que homens como Oliveira são de "cepa rija" e nunca mudam. Há poucos assim.

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  6. Mais ainda...

    É preciso lata para ir como convidado a uma casa (ESTC) e insultar uma das pesssoas dessa casa (neste caso, o meu amigo João Lopes). O João não diz nada sobre cinema nas suas críticas... então são críticas de quê? (É este o homem que traduziu para português "O Cinema ou o Homem Imaginário" de Morin?)

    Obrigado pela lembrança do epíteto "cineasta do sistema". Um abraço para o Zé Vieira Mendes (editor da extinta "Premiere"). Keep telling the truth!

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  7. Sim Sérgio, sem falar desse pormenor do João Lopes também trabalhar na ESTC. Há algo que João Lopes tem e que APV já parece ter perdido: a paixão cinéfila e a capacidade de olhar para as coisas sem ideias extremistas e preconceitos, sempre consciente da evolução (do Cinema e dos cineastas).

    Tenho pena que a Premiere tinha acabado. Coleccionava-a desde o primeiro número.

    Abraço

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  8. Mais do que estar a responder a um cineasta caquético, não deveríamos deixá-lo para ali a falar?

    Não me interpretem mal, nunca fui muito de "uns para um lado, outros para outro". Mas a importância dele cresceu com o aumento da atenção que lhe foi dada. Não faríamos melhor em esvaziar essa importância?

    Abraço a todos

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  9. Sim. O Miguel tem razão, claro.

    Foram três desabafos. O primeiro pela tacanhez. O segundo pela arrogância. O terceiro pelo descaramento. Está dito.

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  10. também concordo com o Miguel; bom, por agora acabou, eheh.

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