domingo, 24 de agosto de 2008

Cineasta fabuloso, cineasta caído no esquecimento. Acho que já tinha aqui escrito sobre ele. É verdade. Apenas un delincuente, 1949, foi o último filme realizado pelo argentino Hugo Fregonese antes de embarcar para Hollywood. O próximo, One Way Street, do exacto ano seguinte, já contou com James Mason e certamente com outros dinheiros, apesar de ter sido fundamentalmente um cineasta de filmes série-b.
Mas este policial é algo portentoso e vital, tão fortemente iconoclasta como clássico. Ou como escreveu Serge Daney: "APENAS UN DELINCUENTE dá uma ideia do imenso talento do Fregonese de 1949, no seu período argentino. Trata-se de um filme policial, barroco e nervoso, que ainda tem um pé na estética do cinema mudo, mas já tem outro em Aldrich, com uma maneira de filmar Buenos Aires como se fosse Nova Iorque que dá à cidade uma presença alucinante"

É mesmo, peça tão poética, tocante e dinâmica como um mudo de Hitchcock ou de Walsh, e tão enérgico e estridente como o referido por Daney, ou como um Fuller ou um Scorsese (aquela organização temporal dá que pensar...) . É nesta linhagem que se traçam as virtudes de um grande estilista e de um cineasta igualmente tão preocupado com o sensível.

O importante aqui é que a mise en scene de Fregonese nunca entra em desvarios incontroláveis e divagatórios. Tudo é transmitido pela função natural da câmara e por uma visão e sensibilidade plena aquando do embate com as situações e com as matérias.
Neste aspecto o ressalvo para as angulações, subtilmente estilizadas nas acelerações, pacientemente atentas às variações e alterações a que o humano se submete.
Isto é um ponto de vista e isto é estar nos domínios plenos de uma arte, da sua história e das suas técnicas.

Que hoje em dia se eleve ao estatuo de génios nomes como Guillermo del Toro, Iñárritu ou Cuarón, ou seja, realizadores mexicanos que foram chamados para Hollywood, e que não passam de académicos a tentarem fazer moderno, muito moderno, também dá para comparar a evolução da politica de contratações da grande máquina de cinema americana (analogias aparte).

1 comentário:

  1. O Cuarón não é um génio, mas o "E a Tua Mãe Também" é um filme do caralho. Ninguém me convence do contrário.

    Já agora, o fotograma que tenho no meu blogue é desse filme.

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