Estive a rever Rescue Dawn, com pouco tempo de intervalo, e tenho que deixar umas notas.
- Secura. É um modo de nunca enfeitar e de nunca exceder uma imagem para lá de uma ética relacionada com o que está em causa. Logo, é o anti-espectáculo de todas as super produções que o cinema americano produziu, que de Scott a Spielberg foram postas em cena, ou qualquer aproximação ao género. Porque volto a repetir – não creio que haja género neste filme.
- Retrocesso. É a fé, a crença e o olhar de Werner Herzog. Retroceder para um tempo em que uma imagem era realmente uma imagem, um plano realmente um plano, por si. Sem nunca estarem – as imagens e os sons – a apontarem a outra coisa, a testar uma máquina ou uma técnica.
Todo o filme é pois um plano sequência, no sentido em que cada imagem e a sua ligação com a próxima, constituem um bloco e um todo assentes no tal olhar que enforma a obra.
- Limpar. È a missão do alemão. Limpar todo o lixo, toda a porcaria e tudo o que ficou convencionado nesses miseráveis filmes de guerra/filmes de espectáculo que invadiram estas últimas e largas investidas.
Limpar os filtros, a sopa sonora, as câmaras lentas, a glorificação pueril, essa estética maquinica. Esmagamento da técnica e convicção no meio envolvente.
"Todo o filme é pois um plano sequência, no sentido em que cada imagem e a sua ligação com a próxima, constituem um bloco e um todo assentes no tal olhar que enforma a obra."
ResponderEliminarA famosa legibilidade que todo o cinema clássico digno desta modernidade (Preminger, Mizoguchi, Lang, Walsh) sempre buscou. Como a tomada de fôlego, uma apenas, que precede a largada e anuncia a conquista, a vitória.
AGUIRRE já indicava que era essa legibilidade o que Herzog buscava; O HOMEM-URSO e RESCUE DAWN são, em vários sentidos, as culminações lógicas de todas estas buscas.
"Come on, you gotta' believe in something?"
"I believe I need A STEAK!"