sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Critica do cinema e divulgação do cinema

Uma pessoa que foi muito importante, e é, para mim, sempre me disse que era fundamental e decisivo fazer a separação das águas entre o que é critica do cinema (pura e dura) e o que é divulgação do cinema.
Muitas vezes me disse que a cítrica não é – não poder ser, é criminoso se o for – divulgação, publicidade, propaganda, etc…
Colado a isto também me repetiu algumas vezes que fazer uma critica séria e lúcida não é contar a história do filme, não é, definitivamente, escrever que a fotografia é boa ou bonita, que a realização está bem feita ou que a banda sonora está bem conseguida.

Disse-me que é necessário tecer uma teia de relações com a História que está para trás, com outras artes se necessário. Analisar a significância das formas e das técnicas em relação ao que está em jogo, a sua mediação em relação ao fundo. Perceber, esclarecer e posicionar esteticamente, contextualmente, temporalmente, etc. Ir à filosofia e a outras disciplinas, se necessário. Ou seja: esmiuçar o objecto, compreendê-lo nos seus segredos e nas suas elipses, nas suas variante e nos seus equilíbrios/desequilíbrios, acelerações/desacelerações, nas zonas escuras, tentar chegar ao invisível pelo que está bem visível. Ter em conta o tom fílmico, a forma como é trabalhada a sua coerência. Apreender a linhagem seguida por certo actor, se o houver. Ou o não-actor. Nunca se demitir perante o filme. Nunca se encolher. Etc. Etc.

Ora, certo dia, entro no hipermercado continente, e depois dos livros e dos jornais, fixo-me na revista Prémiere. E um colega meu é testemunha que eu disse que acho importante existir a revista, mesmo que seja um lixo, que é, não duvido. Logo na primeira ou segunda página deparo-me com um texto do José Vieira Mendes ao último filme dos Irmãos Coen. Leio-o, mesmo sem ter visto o filme. E sim, conta-me a histórinha do filme muito completa e muito bem contada, fala dos Óscares que os Irmão arrecadaram com “No Country for Old Man”. Como este “Burn After Reading” é parecido com o anterior. Diz, grosso modo mas não muito, que está muito bem feito e que é lamentável não se atribuírem prémios a este tipo de filmes.

Eu bem sei que esta revista é, eminentemente, pop, mas tanto é triste. O que aprendi com o texto que não percebesse ao ler uma boa sinopse, ao ler o jornal seguinte aos prémios da academia ou perguntando a qualquer pessoa, indiferenciada, se o filme é bom ou mau?
O que fiquei a saber e o que me enriqueceu? Nada, nadinha. Revista colocada no devido sitio e siga pra vigo. Que J.V.M tivesse perdido um ano para surgir com uma revista igual é lá com ele, não a compro. Que eu tenha lido no outro dia uma entrevista sua a dizer que acha importante a História e os livros, que não compreende a entrada de outras elites no cinema (nem eu) …acho imconpreensivel. Um bom gestor, admito. Mas quem lhe disse que era crítico, que não é, enganou-o.

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