“Revolutionary Road” tem algumas coisas interessantes. Uma Kate Winslet e um Leonardo DiCaprio nos limites, o que é sempre salutar. Roger Deakins a não deixar margens para dúvidas que é um dos maiores, a fotografia não tem nada de bonitinho, de convencional. Enfim, certas atmosferas depressivas. Aquele inicio até promete: um casal, parado à beira da estrada, a discutir violentamente, enfim, nada que o cinema americano nos tenha oferecido ultimamente.
Mas não muito para além disto, pois apesar de toda a claustrofobia e ardência que o romance de Richard Yates poderia permitir sacar, Sam Mendes provou mais uma vez que é um cineasta bastante escolar, um aluno aplicado.
Ou seja: Billy Wilder, John Cassavetes, Jack Nicholson, a câmara que se vai movendo e ganhando mais nervo à medida que a coisa se adensa, aquelas músicas que só poderiam estar ali, o bairro e as rotinas tipicamente americanas, etc.
Têm tudo isto mas faltou o principal: violência emocional, organicidade entre as partes, sensação de irrespirável, mergulhar nos abismos daquelas personagens e daquelas vidas.
Enfim, bem filmado e bem montado, actores fulgurantes, mas no final fica uma sensação de vazio e de normalização do que poderia ter sido um vulcão.
Pensando bem, houve um filme, há pouco tempo, que tocou todos estes temas e foi muito mais extremo, mais grave, fazendo mesmo sentir a temperatura das peles e das carnes. “Little Children”, e cada vez acredito mais que esse Todd Field é especial.
(A personagem de Michael Shannon?!?! Não digo que esteja mal, mas realmente, parece uma bizarríssima colagem ao Joker de Heath Ledger…inacreditável…)
concordo com a tua análise perspicaz excepto num ponto. Michael Shannon pareceu-me estar bem e merecer a nomeação.
ResponderEliminarmas sem duvida um filme que tinha tudo para ir mais alem...
abraço
Também concordo com o que escreves. E sim, bem lembrado, "Little Children" tem muito mais fulgor e vai bem mais fundo na ferida. Já "In The Bedroom" tinha deixado boas impressões de Field.
ResponderEliminarCumprimentos