quarta-feira, 29 de abril de 2009

Entre Rohmer e Rivette. Embora certas insinuações e certos prazeres sádicos logo me remetam para Hitchcock ou Buñuel. Sim aquele momento que envolve o triângulo e o carro especial. Assim ou não assim o monumento é impressionante de erotismo e de comunhão entre todos os elementos orgânicos e não orgânicos. É coisa cósmica, uma experiência suada, sufocante. A câmara de Pascale Ferran é um objecto (um microscópio?, um estetoscópio?) que capta as temperaturas dos desejos e mede as intensidades das pulsões, um objecto que sente o pulsar dos corpos e do mundo, uma máquina que pacientemente perscruta os sintomas, se instala na libertação das pressões e daí prossegue na sua razão ontológica. Da utilização assim de tal objecto científico, deparamo-nos com uma falta de pudor clínica, à beira da frieza, um implacável olhar que todo o filme comporta, mas que não se confunda com demiurgia barata, não, aqui a fogosidade dos actos, dos rituais e dos corpos, bem como um lirismo apaixonante e estarrecedor, por vezes quase infantil, cortam a todo o momento qualquer possibilidade de congelamento ou de pornografia.
Tudo com uma paciência, uma crueza e logo uma serenidade, de bradar aos céus. Há quanto tempo isto deixou de ser possível? Cenas como as que Marina Hands e Jean-Louis Coullo'ch vivem dentro da cabana? Falta reiterar que “Lady Chatterley” é um dos 2/3 filmes que mais me interessam, e mais me continuarão a interessar, desta década.

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