quinta-feira, 2 de julho de 2009

    Foi inevitável, algo mais forte do que eu fez-me pegar no carro, dirigir-me ao cinema e ver “Terminator Salvation”, de McG, realizador para mim completamente desconhecido.
    Sou um burro, ou então só continuo a ir às salas (aquela sala) ver coisas assim por causa da menina da bilheteira por quem há muito tempo me vidrei platonicamente. É brutalmente linda, frágil, essas coisas...Será que lês isto princesa? Em frente pá, cala a boca.

    Já o disse, considero o segundo tomo da série, realizado por James Cameron, um filme demencial, não só do cinema de acção, não só prodígio de efeitos especiais, etc., sim uma peça de arte apocalíptica, trágica, humanisticamente urgente e complexa. Tão negro e tão sem esperança que mais parecia um daqueles fulminantes gestos livres e subversivos de homens que não tem de prestar contas a ninguém (na verdade, o filme é assim) do que algo da grande máquina de Hollywood. Além de que é uma lição de mise-en-scène e de montagem sem par nos anos noventa, sem par no milénio seguinte. Dito isto, e jamais me cansarei de elogiar este filme de Cameron, não sei se deva considerar o projecto de McG um filme (apesar da projecção ocorrida), isto porquê? porque sou dos que acham que ontologicamente cinema e realidade são dependentes, que jamais haverá cinema sem mundo, cinema sem carne e sem sangue e por aí fora. Romantismo? Que seja, mas são convicções cósmicas e contra tais universos recuso-me a lutar. Ou seja: “Terminator Salvation” não possui propriamente imagens, ia dizer “reais”, mas fico-me só por imagens, é sim constituído por gráficos – no sentido mais publicitário possível – grafismos erguidos por computadores caríssimos (ironia lixada), imagens de plástico em que os “0`s” e os “1's” saltam gritantemente à vista, espécie de terminal e inacreditável comunhão entre os “videogames”, a facção mais estúpida da televisão actual e o imparável crescendo imagético produzido pelos telemóveis de ultima geração e afins. Montado sem conhecimento de causa, numa lógica de “next stage” banal, filmado sem espessura alguma, sem um interesse qualquer pelo que está em jogo e pelo que, apesar de tudo, lá existe, é das coisas mais feias e ordinárias que vi nos últimos tempos numa sala (ok, confesso que pouco tenho lá posto os pés). Tudo somado e ainda seria possível executar um tratado sobre a ridícula pretensão filosófica/humanística/moralista que o filme pretende olhar de frente. É a velha cantiga, que nos filmes de Cameron assustava e se fazia matéria palpável e fatal, mas que aqui, tal como nos “Matrix”, tem a subtileza de um pseudo-génio armado em génio a querer impressionar a turma e as meninas com tiradas de filosofia nietzschiana, ou coisa que valha. Mais que coisa informe, é coisa falsa.

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