Criatura onírica é Lilith (Jean Seberg) no último filme de Robert Rossen, Lilith chamado (1964). Lilith é uma rapariga internada num hospício para doentes mentais, na sequência da morte do irmão. Mas Lilith, segundo vários textos gnósticos, é também o nome da primeira mulher, mulher não criada por Iavé mas por Satanás, para perder Adão. Lilith no filme, é simultaneamente a personagem mais inocente e também a mais perversa, que foi “a irmã de um só irmão” e parece querer – e não querer – ser a irmã de alguém mais. Ser a irmã desse Vicent (Warren Beatty) que espera desde o início e com quem quer jogar o jogo da loucura com a loucura da verdade. “Why are they dealing with the madness?” é a pergunta que se pode fazer até se perceber (e temos um filme para isso) que só na loucura Vicent pode eventualmente encontrar a mulher-mãe de cuja perca jamais se curara, e ser destruído ou redimido pela mulher mais próxima dessa mãe e mais oposta a ela.
Quando as regras são violadas até este ponto, não há saída possível. Fica-se nos ouvidos com o terrível Help me! final bradado por Vicent para os médicos, à porta da casa da doença. Brado tão lancinante quanto o silêncio gémeo de Anthony Perkink, quatro anos antes, em Psycho de Hitchcock.
JOÃO BÉNARD DA COSTA
Fascinante.
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