quinta-feira, 26 de maio de 2011



Se a ideia de enviar "The Flying Leathernecks", o sumptuoso campo de estilhaços, violações e possibilidades, em que Ray envolve os homens do filme e nos envolve a nós - magníficas explosões magníficos corações - para um dito moderno ou experimentador como Michael Snow ou os restantes deste mundo, não só permitiria pôr a nu a farsa, como perceber como Ray estava, sempre esteve, muito mais à frente e de forma insconciente e generosa - só com a sede e o desejo que queima e tudo estremece de dentro e para fora vice-versa - do que todos esses ditos experimentos sobre o palpável e a organicidade da matéria. Em Nick tudo se subjuga à emoção e a essa verdade de cada instante, emoção e verdade de cada um. Urgência. Coragem. Liberdade. Tão enorme e tão pequeno. Tão artesanal. Se possivél, na cópia exibida ontem pela Cinemateca, linda, imperfeita e assim mais do que perfeita.

Às vezes, o uso da cor prenuncia We Can`t Go Home Again com as manchas de encarnado e amarelo (fogo) a invadirem o écran, cobrindo a tela das mais insólitas tonalidades. E Nick Ray é soberanamente indiferente a qualquer preocupação de "raccord" de cores ou de luzes. Passa-se do dia à noite, do fogo à floresta, do mar escuro ao mar azul, sem qualquer justificação temporal ou espacial, pela simples vontade de excesso e desarmonia. Visto deste ângulo, The Flying Leathernecks é um nunca acabar de surpresas e é certamente uma das insólitas utilizações do technicolor, alguma vez tentadas.

JOÃO BÉNARD DA COSTA

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