domingo, 9 de outubro de 2011

"Sangue do meu Sangue" é o pior filme de João Canijo em anos, depois da bruteza de "Mal Nascida", o seu melhor filme. As diferenças são óbvias, porque à câmara que naquele era intransigente e se colava às paredes, aos rostos e à fúria em latência e ebulição dos seus personagens rumo ao paroxismo e à catarse, aqui já é puro virtuosismo, declaração de talento, criatividade. Desapareceu a rugosidade e o visco, impossível não notar a suavidade aqui presente, mal-grado as tangentes dos grandes planos. O que é triste é que Canijo prefere pôr em relevo a sua técnica e mil ideias por plano em vez da habitual uma ou duas que sufocava - os foques e desfoques, o trabalho das lentes e dos zooms e dos carris, em suma, o plano sequência que atrofia o espaço – do que nos mostrar e nos deixar ficar verdadeiramente com os magníficos actores, pelo qual o filme, apesar de tudo, vale. Ou seja: não temos propriamente um gesto singular nem actos de generosidade, longe muito longe disso - como dizem os mais excitados críticos - sim um testemunho ou lição de gosto de como o cineasta conhece e trata por tu diversas geografias e modos de fazer como Hsiao-hsien Hou, Brillante Mendoza, Assayas, os cineastas de bairro e do of, Cassavetes, Leight...À preciosa distância desses anteriores filmes, uma inconsequente fascinação pelas superfícies, que podem ser passar por um corpo sem lhe sentir o pulso ou maravilhar-se com os brilhos e as transparências de certos materiais.


Portanto as nojentas cenas de sexo e de violação são apenas o culminar lógico do rolo compressor de uma mise en scène que engole tudo nos seus riquíssimos e sofisticadíssimos meios. Tanto barulho, como as supostas "cenas inovadoras de slogan" dos enquadramentos com mais do que uma cena a passar-se, para um pobre conclusão: tenta-se imitar e viver e captar a vida dos simples e o ego do artista passa por cima sem dó nem piedade. Faz falta a pobreza dos cineastas pobres sem vícios do social e da imitação. Fica a boca aberta da obstinação, como na publicidade que ainda outro dia passava na televisão ou antes da grande tela abrir.

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