quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


Dizer que Simon West não chega aos calcanhares do Sylvester Stallone cineasta é tão verdade como reconhecer claramente que todo o trabalho de construção plano a plano, junção e lógica de “The Expendables 2” tem tanto a unha, o caracter e o bom coração do Barney Ross que lidera e agrega o grupo de mercenários em geopolíticas missões kamikaze carne para canhão do que outra qualquer mente que pudesse conspurcar tão nobre espirito. Sendo assim, Simon West será o homem da pirotécnica, Stallone o do anacronismo enfurecido que se expõe todo e tudo varre de frente. A empresa é a mesma do primeiro tomo e o combate é tanto entre uma irmandade Hawksiana multirracial em terrenos orientais para posse de um quinhão de perigoso plutónio e consequente extermínio inimigo para vingança de afecções como contra toda a tecnologia que participa da tessitura e do convívio simbiótico, frankensteiniano, da imagética que ameaça a sangrada carnagem. Em questão, nada menos do que um holocausto. Combates duros, aguçados, deslimados, mortais corpos a corpos entre as modelações a 3 dimensões desmultiplicadoras de maquinarias, objectos e mesmo seres humanos virtuais versus a clássica sagrada musculatura de actores funâmbulos que em tempos fustigaram os seus canastros para se elevarem a super-heróis, inquebrável impudica plasticina quem ainda resiste. Socos e pontapés e cabeçadas que embatem e ecoam em matérias de iguais características e que parecem querer redimir todas as falhas de uma humanidade desgraçada. Cacholas que explodem, orelhas que se estilhaçam, dentes que se desfazem aos bocadinhos reflectindo os rostos oponentes consolados. Esventramentos últimos. Almas que se passiveis de ainda serem nomeadas se estraçalham em dialécticas tortuosas. Demónios mitológicos lacrados na complexidade de cada um dos soldados. Coisas deste mundo, assim parece, mas reconhece-se ainda um lugar e credos onde os centros de gravidade são falsos como Judas, onde tudo transluz a plástico, as forças motrizes encravam como ecrãs verdes, pretos ou pixilizados, a fealdade da cópia chega a ser berrante, etc, estamos então preparados para uma resposta e para a equação do resultado pondo em campo de batalha esta descarnada bruteza trespassada a rachas, varizes, cruzes, velhice, entropias eternas de tudo o que respira?

A narrativa do filme não é só action, pois do tal requiem por uma inocente alma errática desagua uma outra dimensão trágica que o desvia de um curso imenso de espetáculos pueris da Hollywood século vinte e um para os traçados particulares. Pela amizade, palavra de honra, insurreição, por esses olhares do gigantesco actor e ser Stallone que deles deixa entrever todas as possibilidades para trás de um passado, um homem que terá amado uma mulher como uma e somente uma vez ou talvez nenhuma é permitido pelos altares divinos, que terá sido um pai mais perdido que um perdido filho, isso e mais acasos porventura nas cinzas dos mortos ou na dispersão do universo, eventos de sempre, de todos. Contra a tecnologia e o progresso do esquecimento. Uma grande razão contra a piada infinita, uma razão que tudo justifica num duelo inadiável que explode pela fita ainda película: veias, artérias, células, fluxos, temperaturas, núcleos, tendões, dermes, epidermes, endodermes, fígados, baços, cabeças, …, versus, tão versus como Sly versus Jean-Claude Van Damme, os brilhos, fotorrealismos, padrões, texturas, revestimentos, animações, exotismos, fascinações …. Os esqueletos em potência dos ainda homens contra os esqueletos por preencher das estruturas digitais. Quando as balas terminam, é à homem que as questões primordiais se resolvem, à animal, a primazia do instinto, comer para sobreviver, matar para não ser morto. No saldo ou no término, mesmo com o suposto happy end, as pacificadas anedotas ao tempo e à idade, o domínio sobre as aeronaves e restantes bestas, o trouvaille de Chuck Norris resgatado à força de tripas para um genuíno genial Chuck Norris, mesmo com tudo isto, dizia, esses museus ou estátuas a prazo não parecem ter herdeiros, continuadores, conscientes. Só não vê quem não quer, donde não está desprovido o exagero da guest list, um ou outro rodopio fútil e o cada vez mais saudoso erro humano. Que não se espere mais no sofá, que se resista, à lei do que se tiver à mão, e assim mesmo TE2 é para mim muito mais precioso, preciso, desafectado, radical, rememorativo sem chorar, em diálogo com o que já não há e prometendo porrada ao degredo que apaga memórias do que o Tabu 2012 de Miguel Gomes. Sem pestanejar.

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