quarta-feira, 30 de dezembro de 2015


“B-grade western with a twist: mysterious gunslinger-for-hire Drake Robey is really a vampire, and it's up to Preacher Dan to save the town and girlfriend Dolores Carter.”; “The cinema's first vampire Western!”. À primeira vista este tesouro sombreado a mármore e a luar faz lembrar o cinema de John Carpenter e alguns derivados Tarantinescos que conhecemos muito depois de “Curse of the Undead" ter sido forjado; remetendo atmosfericamente para os seus contemporâneos Jacques Tourneur ou Terence Fisher. Mas progressivamente, em encantada filigrana tormentosa e sexuada, questões e choques de diversa gravidade tomam conta do espaço num tempo não mensurável. O plano sequência e a fusão dissolvente trabalham cirurgicamente, e da mesma forma que mesclam o escuro e o claro, as árvores tocadas pelos ares da noite e as luas apossando-se de rostos, a terra gélida e a pele clamante, também metem em relação a figura do Padre e a do Cowboy desconhecido e longínquo, transcendendo o todo à velha dependência entre o bem e o mal, a fé e a impossibilidade de domínio, entregas no absoluto versus ausência de apelo. E se o género americano por excelência teve um fim e uma hecatombe outra que não a do progresso, ele está neste desenrolar imemorial ao para trás, destruído no duelo que acontece entre entre a lei das armas e a falta de lei mística, depois de morta e enterrada a ciência. Carl Theodor Dreyer poderá ser uma chave, até mais o de “Gertrud” do que o de “Vampyr”; há em halo e carnalmente, na massa movente do plano que resiste, um impulso de desejo que nessa hipnose selvagem – e a questão dos vampiros e do sangue perde os códigos para acentuar ainda mais o risco e a pulsão – o eleva para lá da paixão, pelos terrenos inomináveis da posse desamarrada. Com meia dúzia de tostões e um poder de sugestão realmente sem barreiras técnicas e simbólicas, Edward Dein e uma equipa tão famosa como ele chegam a terrenos tão gastos como virgens e perigosos que se saibam. Para lá ou para cá da nossa luz.

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