sexta-feira, 10 de maio de 2019

anos 90, rtp 1, depois das duas da manhã


O Robert De Niro de "Midnight Run" pode começar por parecer um bandalho, um chico-esperto, um impuro e por isso mesmo um puro maverick do cinema americano, mas depois encontra-se com a mulher e a filha que já não vê há demasiados anos e fica-se logo a saber do bom coração dele, da coragem extrema, de um ser convulso que se decidiu apagar, sujar, e entregar quem ama verdadeiramente ao inimigo para não se sujar onde mais importa e para não magoar esses outros que são a metade dele. No embate frontal de olhares, de elipses e de orações com a mulher eterna faz todo o amor que não fez nesses anos e ambos oferecem tudo um ao outro. Com a filha ainda lhe é permitido espreitar o berço da infância e dos sonhos e planar com ela num paraíso perfeito em breves segundos. Tudo aí é perfeito e belo, em oposição aos games com a máfia e com as autoridades, como bela é a relação com o tipo que tem de prender e não prende pois aprende e já sabia que não se pode prender um Robin Hood. Nesse jogo do gato e do rato que ocupa a narrativa toda, coast to coast, prisioneiro e caçador são uma e a mesma coisa, anjos de um firmamento que decidem beber as fezes até ao fim para renascerem limpos. Martin Brest, o realizador, percebeu toda a subtileza e complexidade da epopeia formal americana e assim vemos tudo por uma lente também ela pura e límpida, para uma double bill perfeita com o que Jim McBride urdia em êxtase na mesma época - "Breathless" ou "Big Easy". Fabulático!
p.s: o genial Philip Baker Hall, rugas de Hollywood, sempre no fundo que interessa, tipo John Goodman para Clint Eastwood, outro anjo que do lado que está não pode ser ouvido, mas que permanece fiel. Sidney chamado, porta aberta para o fabuloso primeiro filme longo de P.T.A.

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