* no My Two Thousand Movies (https://mytwothousandmovies.blogspot.com)
Volto a recuperar Thomas Pynchon e o seu livro mais
desprezado porque ligeiro, ligeiro como uma partida de bola, esse elegíaco
charro apelidado Inherent Vice: «O que seria « caminhar sobre as águas »
senão a maneira bíblica de dizer surfar?»
Jorge Valdano, arcanjo de Diego Armando Maradona aquando da
famosa “mão de Deus” e filósofo disponível do genuíno futebol da rua, escreveu
que «todos queremos vencer, mas apenas o
medíocre não aspira a beleza.» Steve Prefontaine, uma das casualidades mais
“estranhas” e fascinantes que a história do desporto deu à luz efémera, outro
lamentavelmente “irresponsável” que não soube administrar a vida, nunca quis começar
as corridas de fundo no fundo da cauda para atacar no instante decisivo, pois
para ele isso era como a cobardia e acreditar em alguma coisa, nem que seja em
si mesmo, isso sim, é o milagre acabado.
A beleza… acreditar em alguma coisa… milagres… todo o
desporto é equiparável à magia e ao milagre do cinema, à sua razão e à pergunta
sempre capital do “porquê?”, e da transfiguração à transcendência, cabe toda a
beleza. É por demais evidente que todas as gerações querem que no seu tempo
aconteça o incomparável, o “melhor de sempre”, o mito. Por isso tentamos achar
o novo Michael Jordan, o novo Maradona, o Joe DiMaggio em Brooklin… o Eusébio
do Lumiar…por isso se usam as estatísticas, os recordes, se equipara e se faz a
cisão entre as “eras modernas” e as “eras arcaicas”, a tecnologia a matar o
primordial, os tecnocratas a fuzilarem a beleza. Jordan não foi só o melhor
pelos seus títulos , pela iconografia, pela universalidade; nem também somente
pelo seu percurso bigger than life,
por ter sido um dos últimos hustlers
na sombra e em escala interplanetária, mas porque tudo isso aconteceu
inseparável da beleza de um corpo e da inteligência de uma mente em puro
movimento concreto e translúcido.
Em puro movimento, ou seja, uma cadência celeste como
terrena que nasceu para isso e somente para isso. Assim são os filmes
verdadeiramente filmes. O essencial nem que seja num milésimo de segundo a
salvar tudo. De John Ford ao Steven Soderbergh de Traffic (o mais belo dos filmes de desporto, explicarei mais à
frente no ciclo). A beleza a tomar conta de tudo e escondida num piscar de
olhos. Bons estafanços.
José Oliveira, Julho de 2019
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