sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Top 2021


 


Filmes:

O Movimento das Coisas (Manuela Serra)

«Porque nada cessa, nada é tardio», Fiódor Dostoiévski.

Licorice Pizza (Paul Thomas Anderson)

A chave do filme está no último dos últimos fotogramas: Robert Downey, Sr.; um amadorismo («o grande cinema sempre foi artesanal e caseiro», M.O) perto da anarquia e da carnalidade do porno que interessa e que P.T.A conheceu de perto (i.é., tão de perto como as paranoias e girândolas de Pynchon); um amadorismo que enlaça com a inteligência de Billy Wilder e seus argumentistas: a cena em que a personagem de Alana Haim numa casa de banho mente sobre as supostas punhetas que (não) bateu à personagem de Cooper Hoffman é a mais bela declaração de amor para si mesma e para nós: puro bilhar às três tabelas também Hawksiano: fala-se de punhetas, fala-se do amor puro; a câmara e os miúdos numa sintonia vital como o cinema americano já não conseguia desde há muitas décadas.

Cry Macho (Clint Eastwood)

A verdade nunca é pura, e raramente é simples: para Oeste, sempre para Oeste, um novo Oeste, um Paraíso terreal; promessas escritas.

Madres Paralelas (Pedro Almodóvar)

A brutalidade e secura das elipses só têm par e só assim são possíveis pela ignorância e desfaçatez que Almodóvar aplica às regras e às academias dos ministérios argumentistas: como na puta da vida, quanto mais surreal e inesperado e implausível, mais real e com mais chão e peso.

Annette (Leos Carax)

Fodam-se vocês agora, que a mim não me fodem mais: um primitivo.

Nós (Nelson Fernandes)

Rimas de paixão e de guerra, tudo a carvão, calcinado e brilhante.

Schumacher (Hanns-Bruno Kammertöns, Vanessa Nöcker, Michael Wech)

O terror de uma máquina estar predestinado aos abismos, e a assunção disso.

Druk (Thomas Vinterberg)

Dançar e beber em vez do suicídio, e a posta em cena cinematográfica aos «esses» com isso: bela dupla com P.T.A.

King Richard (Reinaldo Marcus Green)

Regresso a James Stewart, a Frank Capra e ao Stallone do Rocky... com a câmara gravítica de Tashlin ou do Lewis a não desperdiçar nem um átomo de vingança e de ajustamento humanista; e os olhares dos protagonistas de Vittorio De Sica a tomarem conta de Will Smith. 

The Card Counter (Paul Schrader)

A solidão e o desejo de vida em panela de pressão, novamente; ainda deu para mais uma variação de The SearchersTaxi Driver; não fossem as baladas fáceis e outros flows, e PS estaria perto de Ethan Edwards / Travis Bickle. 


(Re) descobertas:

- Hollywood (Kevin Brownlow, David Gill)

Cinema é trabalho, inteligência e irresponsabilidade.

- The Horse Thief (Tian Zhuangzhuang)

O mesmo alcance (espaço, tempo e esfinge), em termos exactos e complementares, do Kubrick de 2001.

Porto, Porto  (Sério Fernandes)

Conhecer Camões e Joyce de fio a pavio e olhar e maquinar como uma criança.

Livros:

Alexandra Alpha (José Cardoso Pires)

Lucidez, cinema, sexo, política, tradição, modernidade.

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