quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

filmaço (lembrei-me)

na altura escrevi assim:

Como fazer durar uma imagem? O turco Nuri Bilge Ceylan sabe-a toda.E este olhar poderá como que extrapolar tudo o resto – a paisagem e a lembrança.“Antonioniano” será com certeza a palavra que mais imediatamente resumirá todo o universo deste cinema puramente desencantado, desolado.
Fugir para onde? Pelas paisagens e climas que Ceylan percorrerá – e parece justo reconhecer a dimensão autobiográfica – todas aparentemente diferentes, esteticamente e termicamente, vai reinar a indistinçao…”não há lugar nenhum para onde fugir”, lá está.Para Ceylan é necessário sentir alguma coisa, qualquer coisa distinta da paisagem e dos sentimentos opressores – e vai dormir sobre gavetas, vai entrar pelos terrenos da quase violação, etc…Os meios procurados pelo próprio e as fotografias por ele tiradas são uma ilustração interior.
Mas há coisas plenamente inidentificáveis e resgatadoras – quando o filme, num êxtase sereno entra surrealismo adentro, quando a paisagem e os sons se abrem a uma espécie de Western singular, momentos puramente infantis e enternecedores junto á sua mulher, etc…e naquele que é talvez o mais potente plano do filme (Ceylan no cume de uma montanha gelada) vem-nos á memoria o Friedrich de “Viandante sobre um Mar de Névoa”, faz sentido…
E o som é perfeitamente fundamental, a maneira como este está vincado, parece ter como objectivo estilhaçar a imagem e a sua significância, desfaze-la, diminui-la…o som que rasga sobre a imagem seguinte ou que tentará sempre exceder a imagem presente.Obra de um radicalismo sem concessões, sem medo de obter uma duree própria, numa linhagem formal que encontrará ecos em Pedro Costa, Zhang Ke Jia e pouco mais no cinema contemporâneo.


*Climates

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