quinta-feira, 20 de março de 2008

The Lusty Men


Foi-me difícil o embate com The Lusty Men, um dos filmes mais amados pelo próprio Nicholas Ray.
J.B.Costa escreveu que foi a partir de Bitter Victory, de 1957, que Ray, sempre do lado dos rebeldes, decidiu não reduzir nenhum dos seus personagens em confronto – Dean contra os velhos no Rebeld; Mason contra as regras no Bigger, Bogart contra todos no Lonely, etc…
Mas o que temos em The Lusty Men?, feito tão cedo na obra de Ray, 1952….
Primeiro é-nos apresentado a personagem central do filme, o tal lusty men dos rodeos, homem sem casa, sempre a viajar.
Logo sentimos alguma amargura, que algo terminou, e como escreveu Luís Miguel Oliveira deparamo-nos com o mais belo regresso a casa juntamente com A Desaparecida de Ford que o cinema já filmou.
Mas como Wayne a estadia de Mitchum é de pouca dura; conhece um casal, o homem (Wes) venera a personagem de Mitchum, quer ser like him; a mulher (Louise) torce o nariz.
Depois do paleio Mitchum/McCloud lá é convencido por Wes e embarcam os três em viagem para os rodeos. A casa do trio acabará por se tornar ambulante.
É mais coisa menos coisa isto.
Sem dúvida o mais desencantado, ambíguo e negro dos filmes de Ray, nada do arrebatador lirismo dos seus mais famosos filmes; muito pouco de embates entre rebeldes; nem sequer temos certeza quem será o centro do filme.
A coisa avança, Wes torna-se o que McCloud fora antes, vai existindo a mais estranha e incompreensível das paixões entre um homem e uma mulher em filmes de Ray – só no fim damos por ela.
A arte da elipse ou homem que mete para dentro qualquer sentimento, o tal Lusty Men?
Claro que haverá embate entre os dois homens, claro que McCloud se marimba para isso, e o final é a elipse mais estranha que Ray já construiu.
São estes movimentos que me deixam á nora: das três personagens nunca sinto o centro do filme, nunca persinto realmente os desejos interiores; é verdade que Wes quer ser o melhor; é verdade que McCloud se resignou, mas até isso é fugidio e o final confirma-o.
Mas se tivesse que escolher algo primordial diria que o que fica é um homem com um passado, McCloud, brilhante embora ambíguo, que já não espera nada e encontra um homem como ele foi e uma mulher como se calhar ele teve.
É tocante o conformismo da personagem de McCloud, a não precepitação.
Não há lirismo, há sim desencanto, e há uma câmara que nos dá as paisagens mais discretamente geniais de uma América dos selvagens, os céus e a natureza, os homens a percorrem-na de um lado para o outro, etc…
É dos mais ricos e densos filmes de Nicholas, é talvez o mais secretamente belo, e é o filme em que todas as certezas vacilam.

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