sexta-feira, 11 de julho de 2008
O mudo e o sonoro em Franju
Foi com Henri Langlois que Georges Franju fundou a cinemateca francesa. Ponto fulcral na cinefilia de uma geração e no seu próprio percurso como cineasta. Obviamente um aficionado do mudo, soube transmitir para a sua obra, toda a arte dos filmes feitos com a ausência do som, ao mesmo tempo que o introduziu, notoriamente as partituras e efeitos sonoros, de uma forma inaudita.
Do mudo toda uma plasticidade da imagem, dos gestos e dos movimentos corporais, bem como as expressões faciais ou o simples andar, algo que só no tempo em que a imagem não estava condicionada pela subordinação ao som foi possível. No mudo a imagem era então enfatizada e ultra significante, uma imagem per si.
O mais extraordinário em filmes como La Tete Contre Les Murs ou Les Yeux sans visage, é, que possuindo todas as lições dos grandes mestres do mudo – do expressionismo de Murnau passando pela fisicalidade de Stroheim – utiliza a banda som com uma graça e uma inocência que, mais uma vez, remetem para uma infantilidade, melhor, uma virgindade que só o grande cinema mudo soube, como nenhum outro, construir.
Em Les Yeux sans visage, pelas atrocidades sarcásticas dos actos da enfermeira, soa algo que está com um pé nas bandas sonoras mais lúdicas da dupla Alfred Hitchcock / Bernard Herrmann, e outro no espírito celeste do fantástico praticado no pré-sonoro.
Já a canção primordial que se escuta em La Tete Contre Les Murs é como uma lengalenga infantil, uma música de berço de bebé. É ela que acompanha os delírios da personagem de Jean-Pierre Mocky.
Num caso como no outro um belo e assustador paradoxo – a música utilizada como acentuação de um savoir fair que só acontecia antes de o cinema falar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarmuito apaixonado. Grande texto o seu.
ResponderEliminarAbraço.