quarta-feira, 20 de agosto de 2008

U Samogo Sinevo Morya é de 1935, mais anos menos anos foi realizado em tempos da viragem do mudo para o sonoro.
E é também significativo e decisivo. Isto pois depois de Murnau raramente, ou se calhar nunca, tive o prazer de assistir a imagens tão cândidas, tão inocentemente belas, tão transparentes e clarividentes. Cintilantes.
Há diálogos, há canções trauteadas, há ruídos of, mas a combinação entre a desmesura visual e a não submissão à banda som e ao falado jamais atingiu este nível de comunhão, de encanto em direcção a um infinito.

E depois temos o lirismo. O mar a fundir-se com o sol, os raios a trespassar as nuvens e a chegar aos cabelos, os amanheceres, tudo no nível mais alto de vibração e de temperatura.
Lembrei-me de Malick, melhor, acho que se hoje em dia é possível existir um herdeiro desta arte que incendeia, e que foi levada por Barnet aos píncaros, é ele.
E entes dele só me lembra de sensações assim num outro cineasta que na altura me impressionou totalmente e que está entre os maiores: Artavazd Peleshian.
Ou seja: começa-se nas imagens que ardem e que permitem a perfuração a todos os elementos naturais, e dá-se espessura e sentido pela montagem, pela construção de durações e correspondências rítmicas harmoniosas, contrárias, paralelas, etc…acho que o lirismo acontece por aqui.

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