quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Acho óbvio que um dos grandes problemas do cinema actual, ou uma das suas grandes falsas questões, é a necessidade quase orgásmica pela parte do público, bem como de muita critica, em esperar sempre a novidade, o imprevisto, os climax´s mirabolantes e todo o tipo de piruetas narrativas.

Veja-se este texto de Jorge Mourinha. Ele atribui grande parte da falta de qualidade do último filme de Woddy Allen a algo facilmente adivinhável: «para lá do final fatalista que se adivinha à distância desde as primeiras imagens (será da música de Philip Glass?), tudo parece um ponto que se marca, uma lista de tarefas que se vai cumprindo mecanicamente, sem surpresas nem convicção, como quem diz "para quem é, bacalhau basta".»

Final que se adivinha à distância, marcação do ponto, lista de tarefas, etc…factores/expectativas que, perversamente, diagnosticam tudo o que estará errado na maneira como se analisam hoje em dia os filmes, isto para não falar nos critérios de produção da Hollywood actual, por exemplo.

Pensemos num fundamental filme esquecido – "Whirlpool", de 1949. È obvio que Otto Preminger, à entrada para os anos 50, já estava bastante à frente do seu tempo, e tudo o que interessa hoje (já na altura?) ao público e a certos analistas já não lhe interessava, de todo.

È óbvio que aquele filme só poderia acabar assim, só poderia ter aquele clímax, naquela casa e com aquelas situações. Não é preciso muita inteligência para o descobri uma hora antes.
Ou seja: não é isso que interessa a Preminger, como não é isso que interessa, hoje em dia, por exemplo, a Michaell Mann. (exemplo nada inocente, lembremo-nos como os detractores de Mann tem como bandeira as supostas fragilidades narrativas dos seus filmes).

A arte de Preminger é outra, como a de Mann é obviamente outra. De resto, o mesmo valerá, em certa medida, para Allen.

Qual é a arte então? Acho que essas imagens, ali em cima, Gene Tierney a levar o seu carro pelo negro da noite , poderão fornecer pistas. Ou então vão a "Miami Vice" e aos 15 minutos finais.

O porquê da total ignorância ao que não surge como evidente? (ou o que é ainda mais evidente…)

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