Humm…não sei. Não quero dizer grande coisa, mas acho que este “Um Amor de Perdição”, de Mário Barroso, é coisa inconsequente e sem chama. Como é óbvio, nada têm que ser comparado com o fôlego de Camilo, muito menos com o de Oliveira, trata-se da visão para o século XXI do cineasta, tudo bem. E é como objecto autónomo que têm que ser visto.
O que achei então? Que apesar da maneira misteriosa e de grande beleza na forma como Barroso trata a personagem de Teresa/Ana Moreira – o modo como a enquadra e a insere num halo de luz quase evanescente, como a mantêm platónica e inacessível para Simão/Tomás Alves – do certeiríssimo misto de fragilidade, violência e predestinação com que é revestido este Simão (prognóstico de grande actor) e da carnalidade de Mariana/Catarina Wallenstein, o filme pouco mais é do que uma ilustração básica de uma grande tragédia, com os tais ecos Camilianos.
Descontando – e é um desconto que me é impossível conceder – uma fraquíssima e normalizada decoupage , e um ritmo cinematográfico que me parece perfeitamente indistinguível – por vezes chega a ser aberrante o modo como o filme anda ao lado de qualquer “telefilme” – a encenação da tragédia, bem como o paroxismo pretendido, não possui gravidade de espécie alguma, pior, consigo acreditar em muito pouco do que me é apresentado. Porquê? hummm...em boa parte por causa do desleixe das questões especificamente cinematográficas, por outro, devido a um desajuste de tom entre o fundo da história e o meio em que esta se passa, o modo como isto se relaciona e acontece, não deixa de me soar a falso. Dois exemplos: acena inicial da entrada do “gang”, com aquela música e aquele estilo que não é daqui, todo aquele excesso…a cena da discoteca e a clara inverosimilhança …bom, não sei, simplesmente não acredito naquilo e como o filme não oferece hipóteses de distanciamentos, isso é-lhe fatal…
Falta sangue visceral, não daquele que brota a rodos pelo mínimo toque. Falta suor e afloramento sexual, falta intensidade verdadeiramente intensa, e seria difícil tal acontecer com a falta de tempo de cada plano. Falta duração para que tudo isto se sinta e falta ainda vertigem à narração em off.
Dito isto, como são interessantes as relações incestuosas que por lá vão sucedendo, por aqui, pelos actores e pela Ana Moreira vale o filme de barroso.
Mas enfim, pode não ser nada disto e quando o filme sair para as salas vou rever. Talvez diga qualquer coisa.
Dito isto, como são interessantes as relações incestuosas que por lá vão sucedendo, por aqui, pelos actores e pela Ana Moreira vale o filme de barroso.
Mas enfim, pode não ser nada disto e quando o filme sair para as salas vou rever. Talvez diga qualquer coisa.
Concordo com a apreciação geral, é um filme carente de tudo.
ResponderEliminarO actor que fez de Tomás esteve à altura, a Ana Moreira foi bem trabalhada esteticamente mas está um pavor nos poucos momentos em que lhe é dada a dignidade de falar. Esta drama-queen, hoje, é ridícula e despropositada. E alguma vez este Simão so-very-cool, que diz "pá" e "meu", se daria assim a uma miúda tão queque e poser, exagerada e de discurso formal? E aquele amor era dessa perdição toda com dois pares de olhares? Give me a break, Mário Barroso, já não trovadores teen a cantar cantigas de amor por SMS agora...
Este dramatismo todo fora-de-época deu-me vontade de rir. E condolência, em memória do Camilo, que não merecia assim.