quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Continuo a gostar muito de “De battre mon coeur s'est arrêté “, da forma extremamente pulsional e física – uma espécie de reactor ao fogo e às intensidades interiores – como a câmara acompanha as divisões e a procura de rumo de um homem, jamais o abandonando para qualquer tipo de deriva narrativa, aquela era a missão do olhar, e ponto. Todo aquele turbilhão era a medida certa. “Un prophète” é algo muito mais formatado – narrativamente, formalmente – e sempre protegido pela memória e pelos maneirismos de outros filmes, de outro cinema. Daí que a aparente fúria do filme nasça muito mais do varrimento formal nervoso e em fuga para a frente que o filme ostenta, do que do intimismo dilacerante da personagem (aquele travelling vagaroso e aproximativo que a câmara vai fazendo em direcção a Malik, na preparação para a sua primeira e essencial vítima, surge ali como programa e mecanismo a cumprir, mera ilustração, sem alma ), como por exemplo o Romain Duris do filme anterior. Bastante fragmentado e com preocupações de ascender a uma espécie de “fresco” criminal/prisional, Audiard vai-se perdendo em várias frentes, caindo muitas vezes na tentação de “momentos de cinema”; e dava vontade de entrar naqueles mundos junto com a personagem, sentindo-lhe a respiração, os medos, os espantos e essa moral em que tudo vale para sobreviver e ascender a um estado novo; assim é só um rascunho meio aleatório de um personagem (bem interpretado) e de um meio, um pouco saturado de signos e fórmulas reconhecíveis e impressionistas. Mas claro que também se pode dizer que nestes tempos e nestes filmes isto ainda sabe bem…
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