domingo, 7 de fevereiro de 2010
Cuidado, muito cuidadinho com a cena de “Une femme douce” em que o casal chega a casa logo depois de se casar. É a mais enganadora porque a mais trágica. Tudo ali são aparências e falsas expectativas. Neste filme mais frio do que a morte aquela é a cena mais gélida, seca e desesperante. Certo que eles entram aos abraços (muito cinzentos) e que depois parece existir muita acção – ela despe-se, prepara um banho, liga a televisão (que será sempre tratada como máquina intrusiva, quase de guerra) – vemos o único nu do filme e eles até acabam debaixo dos lençóis. Mas, raras vezes senti um tal prenúncio de morte e de fatalidade instalados, ali, no centro da intimidade de um casal e supostamente num tempo mais do que perfeito, do que nesta cena. Não existe saída possível. É uma solidão de cortar à faca – os seres dos filmes de Bresson sempre foram os mais solitários, mas talvez nunca tenha existido solidão mais aguda do que a vivida pela femme douce. O mais temível dos filmes de horror (porque tudo é familiar e reconhecível ) que nesta cena encontra o máximo dessa expressão.
Para nós que te acompanhamos à distância, és um blogue de cinema do catano. Bem Hajas !
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