terça-feira, 9 de agosto de 2011

Wim Wenders, 1974

1º plano. Um avião nos céus cinzas e por essas gradações fora que deles se reconhecem, uma lenta panorâmica para a esquerda, um reenquadramento tosco, talvez.


Do varal de uma praia para debaixo dele, na areia, outro travelling anódino, profissionalmente insultuoso. 2º Plano.
 
 Wenders, que faria o tão grande e comovente “Paris, Texas”, ainda sabia filmar mal, criança que cresceu com as telas e com a América, com a Itália ou com o Japão (as famílias) essa voragem e a voragem de quem muda muito de lugar e se fascina, se consome e se desprende.
 
Filmar mal, coisa preciosa e bonita tantas vezes.


“Alice in the Cities”. Ainda se sente a viagem e o tempo que destila. Ainda se reconhece o ar da vida e não somente a fetichização do postal, coisa de papelão, cinema-museu. Ainda pulsa solidão e bons sentimentos e não só consciência de cinema e pessoas (personagens) que sabem que são cinema e que no cinema estão. Ainda existe a carne, o encarnado que sua e palpita, um todo integro. Os materiais ainda explodem e denunciam a matéria de que são feitos, a fábrica, ainda longe as superfícies polidas e etéreas e perfumadas. A teorização e essa tal de metalinguagem herdada de Antonioni um dos seus heróis, a cinefilia ou os ritmos flow irrompiam ali de inocência ou de amor, o contrário da solenidade e da muita afectação posterior.

Último plano. O homem e a menina à janela do comboio, cabelos levados pela ventania, liberdade. O preto e branco caseiro. A câmara a subir e a ir-se embora. Para tão longe, tão tão humilde...

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