segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Comedy-drama about life on a not particularly important ship of the US Navy during WW2. A sinopse do imdb ao "Mister Roberts" de Ford, Henry Fonda, Joshua Logan, Thomas Heggen, Frank S. Nugent ainda, e obviamente Mervyn LeRoy, é perfeita. O barco da lavagem de roupa suja, da espera e do tédio, das mulheres ao largo, da prisão, da má fama. Uns que não pensam nisso tais como aqueles que não pensam na vida e na importância dela, e os que dentro dela, como dentro da guerra que neste filme nunca vemos, se pelam por tocar. Fonda sonha e tem visões de si no campo de batalha desde o príncipio, não por medalhas ou heroísmo, mas pelo fogo dentro dele, incêndio junto com solidão que o verga e desvitaliza. Está inaceitavelmente triste e dividido na pasmaceira mas ao lado dos jovens que cedem ao maior dos tiranos por cima deles, a escabrosa personagem de James Cagney. Os ferimentos e questionamentos do seu lugar ligam-no bastante ao Wayne de "Rio grande" - há uns dois planos dele como lobo descarnado junto da amurada que só Ford pode ter filmado - mas na cena crucial em que ele cospe verdades à cara de Cagney (que só foi desenhado assim para a cena e o exemplo ter mais sentido) sobre carreirismos e orgulhos bélicos, revelando que o maior mercenário pode estar atrás de uma secretária, expondo-o ao ridículo em rima com o pano de fundo em que vivem ou trabalham, é a catarse e a validação - tal negociação da liberdade dos homens do lixo tornou-o ali o terno guerreiro. Depois ainda se perde, literaliza o ódio ao chefe, imola-se mesmo perante o destino irreversível. Mas o seu espírito abraça tudo e a atitude final de Jack Lemmon faz parte da herança dos grandes.
Fonda queria tudo como na peça original, essa verdade, os Homens e o Meio como tinha visto e feito no teatro. Ford só queria saber da potência e beleza da luz, das piadas baixas com enfermeiras e bebedeiras, do supostamente secundário. E o verniz estalou, caiu molho entre os dois, nunca mais se falaram. O filme mais problemático de cada um. Não vou dizer que não importa o que LeRoy filmou pois é tudo Fordiano, como não me estenderei sobre o genial "Young Cassidy" que ele nem cheirou e que é um topus da sua obra. "Mister Roberts" faz jus ao título, e o que importa é o momento agudo e fino em que esse coração grande e despedaçado escuta o célebre discurso depois da tempestade - as pontadas, o calor e o frio, a contradição e a grande farsa a falarem ao íntimo. Poucas vezes se senteu tamanha desamparo, tamanha profundidade da desilusão, e a transfiguração. A precipitação seguinte, a tempestade derradeira e a moral brotam da ferida da inadaptação. Inaceitável estado perene da raça, círculo sem saída, que as supostas manobras de diversão de JF apenas tornam humana demais, contrapondo ao habitual choro e enlevo oficial a força do olhar de frente e do sorriso. Entre o rosto magoado demais da cena nuclear e a bandalheira que ninguém quis, tudo cabe. As utópicas serpentinas da abertura, e a ressurreição final. Evidentemente que o seu filme seguinte devastaria o resto.
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