quinta-feira, 17 de dezembro de 2015


“Framed” não é a suposta despedida crepuscular nem mesmo apoteótica de um grande realizador de cinema como é o caso de Phil Karlson. Decorria 1975 e os holofotes estavam virados para tudo menos para estas pequenas intimidades justiceiras, e no lusco-fusco há coisas que importa reter. Da porrada até à morte que lança o filme e começa a escancarar a podridão da montagem social, até ao piscar de olhos e juntar de lábios que o plano final congela marimbando-se para o disfarce em direcção ao intervalo do amor, há novamente uma cruzada que continua visceralmente a de “Walking Tall”. Porrada mortal em seco, em ossos, em pó, como a morrer de sede, esganiçada, num campo contra-campo concentracionário que aprisiona toda a tensão e brutalidade para a soltar num silêncio apocalíptico que é a imagem e cerne do filme. Junção de corpos derradeira que só aponta à dissidência para a junção familiar dos que se reconhecem, e que é apontada pelo polícia negro, possa começar a ser verdade. Verdade, precisamente, é a fome de Joe Don Baker, que estando agora do lado contrário em relação ao filme anterior – de que este é sequela ou prequela – se faz pedra salvadora na destruição da engrenagem que importa. Num mundo onde bem e mal já há muito vestiram as mesmas indumentárias e partilharam os mesmos cabides, só o lado animal é capaz de ousar a distinção e destrinçar, roendo, roendo e estraçalhando, roendo e descarnando, passando por cima de hemorragias e implosões, até uma nova camada original começar a vir ao de cima. Karlson continua a utilizar o zoom para o trabalho porco e para lavar roupa suja, insistindo no estático como reforçamento de fundações invioláveis. Neste chão escorregadio, palhaçadas onde as identidades e entidades se desmultiplicam, atrapalham e baixam ao grau nulo, só olhar olhos nos olhos – resulta até com cães raivosos, como se prova numa cena fulcral – e o assumir-se plenamente – a cena final ou a evidência de que o talento de JDB é o jogo tal como o de Billy the Kid são as pistolas e a liberdade – procedem na procura de limpidez, que é o que Karlson ainda continuou a procurar desde os anos 1940. A aço e a fogo, com zoom e frontalidade. Tarefa e crença que justificam todas as caras e peles rasgadas que o duro Baker aguentou neste díptico. Do lado dos bravos. Luminosamente, antes ou depois do crepúsculo.    

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