“Rampage” é um estranhíssimo Phil
Karlson que nada tem que ver com o constante derrapar da gravidade
passional e física de “Hatar!”. Com um ritmo e um movimento –
dos corpos, do recortar da realização e dos tempos da montagem –
à beira da languidez, do bafo e da tontura, a progressão vai da
ambição e das pulsões animais dos homens até ao seu apocalipse
dos valores e da ordem natural. A missão é ir à selva e trazer os
reis mais valiosos, mas logo entra no gabinete partilhado por Mitchum
e Jack Hawkins a feiticeira Elsa Martinelli e a caça dirigida a ela,
na civilização e na selvajaria, tomba para a predação
escandalosa, à beira da caricatura ou do cio cósmico; mas o que
Karlson procura, fazendo necessária a exacerbação sexual, é o
resumo condensado até à pressão incendiária da narrativa da
ambição e da loucura: no início, os caçadores racionais
entendem-se no domínio do irracional, da beleza e da vaidade; no
mato continuam-se a alimentar e a excitar com as misérias dos
gabinetes profissionais e não escutam os anciões e os tambores ao
longe; no caminho para a cidade Hawkins já liberta os tigres e a
morte a Mitchum; para no final, num palco debaixo do azul e do negro
do céu e das estrelas, no centro da nossa evolução e sabedoria,
estarem todos contra todos – ordem, natureza, inteligência, amor,
lei, honra, memória, instinto, macho, fêmea,... instantâneo
perfeito da nossa cavalgada. Fica outro par mas mais promessas da
guerra. Carregar, apontar, disparar. Eternidade. Lucidez cegante.
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