quarta-feira, 30 de julho de 2008

MELVILLE

Le Doulos é um filme absolutamente extraordinário. E ele nada tem de aparentemente extraordinário. É, como disse um amigo meu, algo praticamente etéreo. Algo singelo.
Naquela sequência que acontece aos 27 minutos, a do assalto à mansão, podemos evocar as lições dos mecanismos do suspense e da geometria dos espaços de Alfred Hitchcock. Bem como podemos falar da simplicidade Hawksiana pelo filme todo.

Mas acho que não, por uma vez acho que não. Mesmo se é uma portentosa e densíssima peça atmosférica, esculpida numa inacreditável luz que não pode ser deste mundo – magnética, fria, cromaticamente derivada de uma banda desenhada (aqui sim, aqui perfeitamente) – é mesmo assim o objecto mais cândido e simples do mundo.

Se o maior efeito é a luz, que é o porquê de vermos os filmes e o mundo, bem como a carne de que são feitos os actores, o maior truque deve ser, talvez, um daqueles efeitos de dissolução de uma imagem na outra, coisa que já Griffith usava.

Junte-se este filme de Jean-Pierre Melville a Claude Sautet e sim…temos o antídoto perfeito para estes tempos.

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