terça-feira, 5 de agosto de 2008

LOPES


Pode, e de uma só vez, Crónica dos Bons Malandros de Fernando Lopes ser um dos filmes mais Godardianos da história do cinema Português, e sem dúvida o mais proto-Tarantinesco?
É hoje uma peça de cinema fascinante e para lá de qualquer catalogação, e nem o rótulo e a família do cinema novo português o aprisiona.
Voltando ao principio: é a montagem sensual e demolidora (no que às regras diz respeito), o feiticismo (cigarros, pernas, mamas…), a ironia e auto-ironia, a desconstrução e desmontagem ficcional e os rasgos estonteantes na narrativa, a coolness…a animação no real e o real na animação.
Obra inclassificável e definidora da singularidade de Lopes perante todo o resto do grupo (Monteiro aparte) bem como tocante empreitada – vibrante e a desfazer-se como qualquer Scorsese inicial (enfim…) que é por si definidora do que é experimentar e potencializar com imagens e com sons e, já agora, com muitas outras coisas…
Se alguém disser que Quentin Tarantino não viu o filme português que junta e apresenta uma quadrilha lisboeta que se prepara para assaltar a Gulbenkian, para o seu Reservoir Dogs, eu não acredito.
E voltando novamente ao principio, este pode ainda ser o mais Kubrickiano (com direito a sequência hipnótica/tocada pelos ácidos incluída), o mais Minnelliano ou Demyano dos filmes? – é um golpe de magia pelo cinema e pelas suas formas e estéticas possíveis e impossíveis, pelos códigos de uma geração e pela arte em geral que terá pouquíssimos pares.
E para não ser só elogios, o som é efectivamente reflexo de um problema do cinema português que hoje já não existe.

Sem comentários:

Enviar um comentário