segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Cá está o homem, o génio, um dos meus heróis, Don Siegel. Homem duro, lacónico, dos que levavam as coisas para a frente e não se queixavam com coisinhas, foi também o mentor de um tal Sam Peckimpah. Porque o ciclo Eastwood, que está a acontecer na cinemateca, também é um pouco um ciclo Siegel (como é Leone, Wellman, Post, etc.) há que fazer a minha devida homenagem ao único realizador, dos que conheço, que me fez parar um filme para respirar um pouco e limpar o suor do rosto. É verdade, acho que neste caso não estraga a reputação a ninguém, sempre posso dizer que não aconteceu o mesmo, por exemplo, com Stanley Brakhage. Tal coisa sucedeu no doentio “The Beguiled”, esse western, esse filme de guerra, esse melodrama, esse filme de terror, etc. Um bando de mulheres, numa casa que é símbolo de loucura, e que são para Eastwood bem mais perigosas e temerárias do que a própria guerra que explode na parte de fora da casa, acolhem-no e vão tratar-lhe da saúde. Cores desaturadas e ruído insalubre, zooms fora de tudo, um realismo que é logo abstraccionismo. Puta-que-pariu. A cena: as referidas mulheres a amputarem uma das pernas a Eastwood. O que se passa nesses minutos não consigo descrever por palavras. Existe uma serra, uns panos, qualquer coisa para trincar, carne branca e…

“The Beguiled” é a minha recomendação primordial, mas é criminoso perder uma das coisas mais estranhas e sedutoras da sua carreira, “Two Mules for Sister Sara”, têm Clint como um cowboy fora de tempo, uma freira (Shirley MacLaine, fresca, fresquinha) daquelas que se enganaram no oficio e uma batalha final que é uma súmula da arte de Siegel. Acaba com os dois enfiados numa banheira, incluindo a farda, as botas do herói e muita, mas muita poeira.

Claro que “Coogan's Bluff” é obrigatório (outro cowboy), “Escape from Alcatraz” idem, e o outro já se sabe qual é.

Parecendo que não, outro dos que sabia que esta coisa é questão de ontologia. Outro dos que mandava o estilo e as marcas de auteur dar uma grande volta.

3 comentários:

  1. eu já disse uma vez que o 'Two Mules for Sister Sara' é o western que o Billy Wilder nunca fez...

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  2. He pá, passei o filme todo a pensar no Billy Wilder e na Irma La Douce, nem sei bem porquê... aquela primeira cena em que a Shirley MacLaine aparece meia nua, mal se tapando com o hábito, pareceu-me mesmo wilderiana...
    talvez tenha que o rever para elaborar um bocado melhor sobre o asunto.

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