domingo, 13 de dezembro de 2015


Vale sempre recordar a doutrina de Phil Karlson, cineasta: veracidade, natureza, osso, implicação. “5 Against the House” pertence ao género dos heist movies mas está no oposto deles. Nada tem a ver com os Ocean’s Eleven pois o que é estilização, cool, maneirismo ou acessório não passa no filtro moral que entende a arte como razão de existência. Interessa saber como todas as coisas que a câmara capta, seja a realidade ou a ilusão, respiram e transpiram. O grande golpe, aqui pequeno, ridículo e inverosímil, só acontece por causa do grande medo, do tédio (com desemprego e sem desemprego) e da rejeição que os homens tremelicantes, apesar da aparente ligeireza com que soltam as piadas, auguram e sentem mesmo ao arrepio nas desprotegidas espinhas. Homens que não só viram a guerra mas que a transportam na carne e nos nervos como constituição orgânica, facto que nos anos 50 do século transacto serviu de dínamo para o irracional e para o extraordinário tal como nestes nossos tempos as drogas políticas e publicitárias. A guerra é a pressão que a todos devasta e a imagem do mal que a raça humana sempre teve necessidade de sustentar para que as coisas se mantenham na ordem da farsa produtiva. Assim, a personagem famosa e “sem problemas” de Kim Novak é tão decisiva e central como a do atormentado e fabuloso, porque sem margem para encenação (traição), Brian Keith, arrastada pela corrente da escória do seu tempo que como hoje tudo aplana em silogismos e genocídios. Mal, farsa, medo, depois disso ou nisso, só à selvajaria compete regressar – os elementos do golpe regressam aos primórdios, ao tempo dos cowboys, tudo viram do avesso, lei e caos no mesmo raio, as piadas cessam e as lágrimas vertem, e aí sim, pela ousadia parece haver uma nova esperança. Repara-se como no começo (voltando depois nos finais e nos meios) Karlson nos deixa a ver tempo demais para as regras dramatúrgicas os elevadores dos carros; ou como no primeiro engate o rapaz pede ao competidor que se chegue para lá e deixe a rapariga para ele, e logo o plano de conjunto de três passa abruptamente para dois - veracidade, natureza, osso, implicação, e faltou intuição, que nos perfeitos timings com que tudo é rodado e unido permite entrar todo o ar do documento e do indomável. Se rareiam músculos e sensibilidades destas, se calhar porque não têm uma fábrica propícia ou uma comunidade, lembremo-nos do “Thief” de Michael Mann ou das prisões de Ventura em “Cavalo Dinheiro”, para se voltar sempre à conclusão que interessa o génio ou simplesmente a pintura emocional que está à frente e não o espectáculo técnico, essa ilusão de poder.  

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