sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Rampage, Phil Karlson, 1963

“Rampage” é um estranhíssimo Phil Karlson que nada tem que ver com o constante derrapar da gravidade passional e física de “Hatar!”. Com um ritmo e um movimento – dos corpos, do recortar da realização e dos tempos da montagem – à beira da languidez, do bafo e da tontura, a progressão vai da ambição e das pulsões animais dos homens até ao seu apocalipse dos valores e da ordem natural. A missão é ir à selva e trazer os reis mais valiosos, mas logo entra no gabinete partilhado por Mitchum e Jack Hawkins a feiticeira Elsa Martinelli e a caça dirigida a ela, na civilização e na selvajaria, tomba para a predação escandalosa, à beira da caricatura ou do cio cósmico; mas o que Karlson procura, fazendo necessária a exacerbação sexual, é o resumo condensado até à pressão incendiária da narrativa da ambição e da loucura: no início, os caçadores racionais entendem-se no domínio do irracional, da beleza e da vaidade; no mato continuam-se a alimentar e a excitar com as misérias dos gabinetes profissionais e não escutam os anciões e os tambores ao longe; no caminho para a cidade Hawkins já liberta os tigres e a morte a Mitchum; para no final, num palco debaixo do azul e do negro do céu e das estrelas, no centro da nossa evolução e sabedoria, estarem todos contra todos – ordem, natureza, inteligência, amor, lei, honra, memória, instinto, macho, fêmea,... instantâneo perfeito da nossa cavalgada. Fica outro par mas mais promessas da guerra. Carregar, apontar, disparar. Eternidade. Lucidez cegante.  

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