











"Anne of the Indies ", Jacques Tourneur, 1951
..........
Um filme de piratas puríssimo em que a heroína é uma mulher, belíssima Jean Peters? Puro, e límpido, magnificentemente lapidado, mas sem dúvida algo completamente “fora” de tudo, sedutor e enigmático, sem momentos glorificantes ou de “grande cinema”, senão tudo o que é regido pela nobreza da apreensão e da modelação. Digamos que há ali logo um gesto de grandeza, que é qualquer coisa assim: no centro de um imaginário tão supostamente carregado e alusivo – simbolicamente, misticamente – tão fácil de manejar em direcção ao simplismo do maravilhoso e do aventureiro, da nostálgica básica porque inerente aos signos e lembranças desse mundo, algo que pedia gritantemente pelo espectáculo de feira, Tourneur opta pela depuração, pela força e sensibilidade do seu olhar, pela sua verdade, que é o seu cinema. Isto porque o filme nada mais coloca em cena do que um relato delicado sobre os sentimentos mais básicos e logo os mais urgentes, conto de revelação e histórias de amor em paisagem e época mítica, e é neste aspecto que estaremos perto de algo da ordem da inocência e do iniciático. Como naquele maravilhoso travelling, porque simples e justo, onde junto ao mar Louis Jourdan vai contando a Jean Peters o alcance das suas façanhas e do seu nome, onde uma aliança vai ser estabelecida, para, logo a seguir, numa ligação prodigiosa, ela se levantar em direcção ao mais puro dos azuis, dos céus, das águas, e se descobrir mulher de corpo inteiro. A natureza e o despertar. Depois, em mais uma lição de raccord, a cena do vestido e do beijo. “Qualquer homem seria louco se não gostasse./ Porquê? / Está na natureza do homem.” E não será preciso dizer muito mais, que mesmo com as traições e o irreversível que se seguirá, a pujança de tais manifestações e intimismo jamais será extinta.
2 comentários:
Eh pá, não conhecia o filme, mas deixaste-me com curiosidade. E a Jean Peters era uma hottie (vê-a no Viva Zapata).
hehe, tens toda a razão. obrigado pela sugestão.
Enviar um comentário