Um país que consagra com honras de capa nos altivos e alternativos e imbatíveis suplementos culturais, coisas como o patético vácuo “audiovisualice” de Gonçalo Tocha (melhor, muito melhor e mais digno e artesanal é a peça que dentro do filme de Tocha o profissional da rtp edita), Bruno Nogueira (no comment), B-Fachada (é o suficiente ter ouvidos para se ter pena da violentação perpetrada à mais transcendesse das artes às mãos dos betos e dos espertinhos) ou mesmo a fracção mais obscena e fascista do cinema de João Canijo e dos seus subterfúgios inovadores, só pode mesmo estar no esgoto. Cineastas e artistas destes e assim são os tais que crêem no cinema como meio de comunicação e jamais arte – a cópia carbono do que não sentimos na pele, coisa exótica e prémios garantidos. Um país em que os céus e os pedestais são para tais mediocridades e desonestidades lidas (melhor, não lidas) como heroísmo, só merece mesmo o encantador estado em que está e a consequente alegria e exaltação desses geniais e tristes comentadores, belo reflexo...esse modo de ser português. Não mais faço tops e coisas que tais, vi muitíssimos poucos filmes nas chamadas salas comerciais e também nos festivais em 2011, mas digo sem ambíguas leituras que o filme do João Nicolau, o do Tocha e o do Canijo foram os que mais odiei nesta safra. Como igualmente afirmo sem espaços para dúvidas que a última obra do Manoel de Oliveira “O Estranho Caso de Angélica” chamada (cinema em estado iniciático logo pronto para todas as realidades e para todas as visões e já a ver de dentro da mais funda sepultura) foi o melhor, o único a ficar para uma posteridade qualquer. É de facto incrível a fanfarronice dos que tem por objectivo a comunhão perfeita entre público e crítica...tanto como os grupinhos – ou seja, 99% dos que escrevem por aí sobre cinema e que se consideram minimamente sérios e que ao invés de serem livres porque nos seus cantos nada pagam nem nada perdem nem nada devem, são mais pedantes e afectados e presos a teorias e a compêndios académicos do que os "especialistas" – que passam o tempo todo a tentar saber se Cronenberg ainda é "cronenberguiano", se é teatro ou cinema, se Von Trier é génio e o novo Tarkovski ou só fraude, ou se o Almodôvar se afundou definitivamente ao invés da volta por cima. Ou seja, a prestarem vassalagem – et pour cause? - aos corruptos festivais e aos corruptos directores deles e produtores e jornalistas que combinam selecções e prémios. Os correspondentes das feiras das vaidades criam mitos para uns tempos e umas obras depois os destroçarem, infelizes são os amadores que poderiam descobrir galáxias noutras vidas e noutras luzes mas que preferem enfiar os mesmos óculos e passearem nas mesmas festas desses outros.
Questões dos institucionalizados que jamais saberão ou sentirão ou se perderão no antro transformador e sufocado de perdição e beleza e mal chamado cinema, terra de sombras terra de sei lá quê que é questão de tudo ou nada e jamais tais exercícios de excitação e de caça ao “novo”, ao “génio” ou à “revolução” (“a última velhice que chegou…”) com que esses profissionais, uns paus-mandados, outros demiurgos, cabotinos, outros só porque era cool o curso e a profissão, são obrigados para se sustentarem e almejarem patamares. Sacrificando...tudo.
O outro filme que me interessou e muito é também português, mas não é por isso que é genial - "Wolfram", de Rodolfo Pimenta e Joana Torgal. Passou por aí sem barulhos, sem ribaltas, sem medalhas, daqueles de sessão única que depois sabemos lá quando o reencontraremos..por isso mesmo em sintonia com a sua sussurrada e desmesurada sinfonia materialista, musical, carnal, vital.
Vocês que fazem parte dessa massa, Que passa nos projetos, do futuro É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais, do que receber. E ter que demonstrar, sua coragem A margem do que possa aparecer. E ver que toda essa, engrenagem Já sente a ferrugem, lhe comer.
Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz
Lá fora faz um tempo confortável A vigilância cuida do normal Os automóveis ouvem a notícia Os homens a publicam no jornal E correm através da madrugada A única velhice que chegou Demoram-se na beira da estrada E passam a contar o que sobrou.
Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz Eh, ôô, vida de gado Povo marcado, ê Povo feliz
O povo, foge da ignorância Apesar de viver tão perto dela E sonham com melhores, tempos idos Contemplam essa vida, numa cela Esperam nova possibilidade De verem esse mundo, se acabar A arca de Noé, o dirigível Não voam, nem se pode flutuar, Não voam nem se pode flutuar, Não voam nem se pode flutuar.
Eh, ôô, vida de gado Povo marcado e, Povo feliz Eh, ôô, vida de gado Povo marcado e, Povo feliz
3 comentários:
Ípsilon e todos eles desta terra.
Um país que consagra com honras de capa nos altivos e alternativos e imbatíveis suplementos culturais, coisas como o patético vácuo “audiovisualice” de Gonçalo Tocha (melhor, muito melhor e mais digno e artesanal é a peça que dentro do filme de Tocha o profissional da rtp edita), Bruno Nogueira (no comment), B-Fachada (é o suficiente ter ouvidos para se ter pena da violentação perpetrada à mais transcendesse das artes às mãos dos betos e dos espertinhos)
ou mesmo a fracção mais obscena e fascista do cinema de João Canijo e dos seus subterfúgios inovadores, só pode mesmo estar no esgoto. Cineastas e artistas destes e assim são os tais que crêem no cinema como meio de comunicação e jamais arte – a cópia carbono do que não sentimos na pele, coisa exótica e prémios garantidos. Um país em que os céus e os pedestais são para tais mediocridades e desonestidades lidas (melhor, não lidas) como heroísmo, só merece mesmo o encantador estado em que está e a consequente alegria e exaltação desses geniais e tristes comentadores, belo reflexo...esse modo de ser português. Não mais faço tops e coisas que tais, vi muitíssimos poucos filmes nas chamadas salas comerciais e também nos festivais em 2011, mas digo sem ambíguas leituras que o filme do João Nicolau, o do Tocha e o do Canijo foram os que mais odiei nesta safra. Como igualmente afirmo sem espaços para dúvidas que a última obra do Manoel de Oliveira “O Estranho Caso de Angélica” chamada (cinema em estado iniciático logo pronto para todas as realidades e para todas as visões e já a ver de dentro da mais funda sepultura) foi o melhor, o único a ficar para uma posteridade qualquer. É de facto incrível a fanfarronice dos que tem por objectivo a comunhão perfeita entre público e crítica...tanto como os grupinhos – ou seja, 99% dos que escrevem por aí sobre cinema e que se consideram minimamente sérios e que ao invés de serem livres porque nos seus cantos nada pagam nem nada perdem nem nada devem, são mais pedantes e afectados e presos a teorias e a compêndios académicos do que os "especialistas" – que passam o tempo todo a tentar saber se Cronenberg ainda é "cronenberguiano", se é teatro ou cinema, se Von Trier é génio e o novo Tarkovski ou só fraude, ou se o Almodôvar se afundou definitivamente ao invés da volta por cima. Ou seja, a prestarem vassalagem – et pour cause? - aos corruptos festivais e aos corruptos directores deles e produtores e jornalistas que combinam selecções e prémios. Os correspondentes das feiras das vaidades criam mitos para uns tempos e umas obras depois os destroçarem, infelizes são os amadores que poderiam descobrir galáxias noutras vidas e noutras luzes mas que preferem enfiar os mesmos óculos e passearem nas mesmas festas desses outros.
Questões dos institucionalizados que jamais saberão ou sentirão ou se perderão no antro transformador e sufocado de perdição e beleza e mal chamado cinema, terra de sombras terra de sei lá quê que é questão de tudo ou nada e jamais tais exercícios de excitação e de caça ao “novo”, ao “génio” ou à “revolução” (“a última velhice que chegou…”) com que esses profissionais, uns paus-mandados, outros demiurgos, cabotinos, outros só porque era cool o curso e a profissão, são obrigados para se sustentarem e almejarem patamares. Sacrificando...tudo.
O outro filme que me interessou e muito é também português, mas não é por isso que é genial - "Wolfram", de Rodolfo Pimenta e Joana Torgal. Passou por aí sem barulhos, sem ribaltas, sem medalhas, daqueles de sessão única que depois sabemos lá quando o reencontraremos..por isso mesmo em sintonia com a sua sussurrada e desmesurada sinfonia materialista, musical, carnal, vital.
Dedicada aos campeões de 2011:
"Vida de Gado", Zé Ramalho
Vocês que fazem parte dessa massa,
Que passa nos projetos, do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais, do que receber.
E ter que demonstrar, sua coragem
A margem do que possa aparecer.
E ver que toda essa, engrenagem
Já sente a ferrugem, lhe comer.
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
O povo, foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores, tempos idos
Contemplam essa vida, numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo, se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar.
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
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