terça-feira, 29 de março de 2022

Encontro a três tempos com Jorge Silva Melo

  1. «Anda daí dar uma volta.» - é a lição de vida que J.S.M me deu no seu magnífico texto sobre o Rio Bravo para um catálogo da Cinemateca Portuguesa. Muitos anos depois, na apresentação do seu filme Passagem ou a Meio Caminho, igualmente na Cinemateca, respondeu a um crítico que se desfazia em elogios que se o John Wayne visse esse seu «filme lamechas» lhe daria um soco, e que seria bem dado.
  1. Algures em 2016 eu e o João Palhares fizemos sem dinheiro e com uma sandes no bolso a Nacional 14 que vai de Braga ao Porto para tentar sacar de J.S.M um depoimento sobre um dos seus filmes mais belos, o Some Came Running do Vincente Minnelli. Fizemos tudo certo, como um relógio suíço, mas quando ele saiu pela porta lateral do Teatro Nacional São João, pareceu-nos ver um mito, um Wayne mais delicado e com a graça dos deuses, e não conseguimos abrir a boca, regressando a Bracara Augusta humilhados de nós mesmos. 
  1. Com a ajuda do José Marmeleira conseguimos meses mais tarde marcar um encontro com o J.S.M nos Artistas Unidos, numa manhã radiante. Lá fomos, o Palhares, a Marta Ramos e eu; perdemos logo a vergonha quando ele veio em direção a nós, a gritar «Minnelli!, então é para falar de Minnelli... viva Minnelli!». E logo percebemos que a nossa projetada divindade era um tipo porreiro daqueles que costumávamos encontrar em tascas e bares noturnos nas perdidas deambulações ao deus-dará desses anos... um tipo completamente disponível, humilde e com uma candura semelhante aos deuses, também não estávamos muito enganados... deu-nos o vídeo que vos deixo, que como sempre, e essa era a sua marca, ficou lacónico como Hawks e Wayne e poético como um Pavese, um Ruy belo...




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