Aquando da exibição do filme no Cineclube Gardunha - dezembro de 2024.
- Tem sido muito comentada a tua
experiência de estudo na Romênia e essa influência tanto nas tuas curtas
anteriores como nesta estreia nas longas-metragens. O que mais te marcou
realmente nesse período formativo?
Existe
a falsa ideia de que eu fui pra a Roménia estudar, não é verdade, fui para lá
viver e trabalhar ainda muito novo, do qual resulta uma curta-metragem (Luminita).
No entanto, nesse período romeno, existiu ainda assim para mim um processo de
formação e reconhecimento de outras formas de filmar e contar uma história. A
longa é uma consequência desse processo, depois continuado em Portugal nestes
últimos 10 anos.
- Existe uma dureza e uma busca de
veracidade no teu trabalho com os actores e no trabalho com a câmara que torna
os dois indissociáveis. O que pedes aos actores e como é que pensas as
distâncias entre eles, a câmara e o espaço?
Aos actores peço foco, sobretudo, e tento
fazer o melhor para ajudá-los a mantê-lo, a organizarem mente e coração,
situarem-se no tempo e no espaço. Sei o que procuro em cada momento mas também
tento dar espaço e lugar da fala às personagens, por assim dizer, para que elas
tomem conta do set e da dinâmica no mesmo. O trabalho de câmara é
diferente, às vezes sou eu a operar e o processo torna-se ainda mais
instintivo, mas em geral procuro uma fluidez natural entre a câmara e os
corpos.
- O improviso e o instinto parecem ter
um lugar central no teu método. Como é que a ideia inicial vai mudando desde o
papel até à montagem?
Não muda assim tanto, como parece indiciar
a pergunta. Existe uma ideia central, planeada, mas a produção de cinema obriga
a uma constante adaptação, isso é certo. Como exemplos, às vezes os actores
trazem novas luzes sobre as personagens, às vezes os décores de rodagem
permitem mais ou restringem certas ideias pré-pensadas.
- Estamos na cidade de Setúbal, de onde
és natural, mas evitas todo o perigo do bilhete-postal e do turismo. O filme
poderia ser passado noutro lugar?
Sim e não. Para mim sempre foi essencial
voltar a “jogar em casa”, depois de várias curtas filmadas em Setúbal, e, de
facto, a história do filme foi escrita em torno de vários elementos
socio-económicos e geográficos característicos de Setúbal. Por outro lado, se
um dia alguém decidir fazer um remake do O Bêbado, poderemos ter
oportunidade de redescobrir novas perspectivas num outro lugar onde a história
se desenrole.
- Por último, conseguiste os meios de
produção ideais - e a mim o filme parece-me justo nesse aspecto - ou tiveste de
desenrascar muita coisa?
Sem comentários:
Enviar um comentário