…é uma desilusão, uma seca e uma repetição. Infelizmente, pois desde a lufada de ar fresco e a libertinagem cool que foi Bottle Rocket em 1994, até á afirmação absoluta de um universo único e um estilo formal muito próprio em The Life Aquatic with Steve Zissou, filme grandioso, cheiíssimo de pormenores, de rasganços quase a la nouvelle vague, de uma certa nostalgia dorida – acima de tudo era algo em estado virginal que nunca tínhamos vislumbrado, principalmente no contexto do cinema americano.
Ora se eu sou a favor da teoria de autor, do tal “um autor faz sempre o mesmo filme e nunca o mesmo filme”, acho que não dá para aplicar aqui.
Aqui é mais: sempre o mesmo filme e em vez de apurar piora.
É a família, é a coolness, são os personagens de papelão, a realização demiurgica e ultra precisa, tudo no lugar, etc…
Mas neste cruzamento entre O Rio Sagrado de Renoir e o olhar de miúdo, a experimentação, a “jouissance” de Truffaut – estão lá os zooms reconhecíveis, a singularidade de cenas dissonantes do todo, enfim, ainda os tais cortes a meio ou a música – sente-se que Wes perdeu qualquer coisa, melhor, carregou demasiado na tecla – tudo soa a falsidade de miúdo esperto, personagens a fazer de personagens dos seus outros filmes – até Murray – oco e de papel, o trio de irmãos tem total consciência do que estão a fazer.
Mesmo as formas, praticamente tridimensionais, a câmara que parece feita de ar e que voa, as cores e riquezas de cenário, a montagem mais do que perfeita, tudo parece recalcado e cópia menor de um grandioso universo anterior de Anderson.
É difícil acreditar em algo, e a auto ironia nunca funciona.
Claro que há planos e cenários lindíssimos, ainda sobra qualquer coisa, mas é pouco, muito pouco.
Porque se é para papelão e caricaturas não troco Tarantino por nada.
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