segunda-feira, 23 de junho de 2008

De Palma


Emergido em Brian de Palma, revisão de Carlito´s Way e Femme Fatal de assentada. Convicção feita de que Carlito´s está para Femme como a maior lição de mise en scene no cinema americano dos anos 90. Sem duvidas: Femme é o filme americano mais importante numa ideia de cinema do novo século.
Carlitos é de uma grandeza, uma concisão e uma mestria de domínio do espaço e dos tempos que chega a diminuir quase todas as outras grandes postas em cena da década anterior. Uma cena definidora que valerá para toda a arte de De Palma (veja-se Black Dália): a primeira vez que Penn se dirige à prisão flutuante. É de uma pujança, de uma economia, de uma precisão e ao mesmo tempo reveste-se de tal importância para o resto da mise en scene e também para a cena impressionante da fuga da prisão, mais à frente, que define também a tal década anterior.
Uma câmara em bailado cirúrgico e visualmente empolgante que varre todo o espaço e o mundo com uma subtileza e sofisticação totais. Mas nunca, e é a distinção dos Fight Clubs ou Usual Suspects: nunca entra em auto exibição fútil.
Femme é a mesma e outra coisa: o mesmo domínio ditatorial do espaço, o mesmo investimento no tempo de cada acção, de cada imagem, um tremendo afloramento das emoções e do sangue, um abismo à frente, sem salvação, que é, já agora, outra das coisas que destaca De Palma do resto.

5 comentários:

Sérgio Dias Branco disse...

Assino por baixo.

Persiste ainda a ideia de que De Palma é um "formalista", simplesmente porque as formas são salientes no seu cinema. São formas de pensamento, formas que pensam, formas que dão a pensar.

Coisas como o teu apontamento ou isto (que já vem a caminho!) são sempre bem-vindas.

Abraço

José Oliveira disse...

hum, pareçe-me bem esse livro, junto uns cobres e ainda o agarro também,

Abraço

Juom disse...

Concordo com quase tudo - De Palma é, sem grandes dúvidas, um dos maiores realizadores de cinema do mundo, e ambos os filmes são fundamentais para compreender o seu cinema como uma entidade, e hoje em dia não se pode dizer isto de muita gente. Discordo é dos exemplos que referes como auto-exibição fútil. Fight Club e The Usual Suspects são obras que experimentam e manipulam, é certo, mas sempre dentro de uma lógica de construção/desconstrução de códigos cinematográficos, tal e qual o faz Brian de Palma. Aliás, de Palma é um fã confesso de Fincher e de Fight Club.

JHB disse...

Mais uma vez venho fazer uma pergunta na minha condição de leigo. Mas não há uma grande semelhança entre as formas dos últimos filmes de de Palma e Fincher, Black Dahlia e Zodiac? É pelo menos isso que o meu olho destreinado me sugere.

José Oliveira disse...

olá,

primeiro de tudo deixa-me dizer que Zodiac não é só o melhor filme de Fincher como uma Obra-Prima do cinema Americano.

Mas os "projectos" parecem-me um pouco diferentes. De Palma é sempre mais cerebral, mais lânguido e até fetichista.

Zodiac é um filme de uma concisão formal absoluta, um bloco, uma lisura impressionante que não mais faz do que brotar as obsessões daqueles personagens e deixar lugar para toda a subjectividade.

O contrário de Fight Club parece-me.