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Isto tudo mas também um interesse pelas texturas e pela peculiaridade de cada lugar, pela singularidade, mesmo que enquadradas, sempre, pelo Cinema. E um interesse genuíno pelas personagens, aqui não há bonecada para ninguém. Mas o que acho essencial, e que me há-de tocar sempre nestes filmes iniciais de Wenders, é esta inocência das situações presentes a cada cena (que pode ser um encontro entre Ganz e Eustache num bar parisiense), esta inocência das coisas, das imagens, esta abstração temporal, esta fascinação absolutamente assumida pelos lugares, pela maneira americana e pelos mitos. Daí uma poética realmente sentida e uma ausência de qualquer pompa ou pretensão. Nada de saudosismo, antes uma melancolia preciosa e tocante. O cinema e só o cinema e a vontade de viajar e de deixar entrar mundos. “Der Amerikanische Freund” têm a força e a candura das coisas inatacáveis e cristalinas, é um produto do amor e isso basta-lhe.
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Estava a pensar ainda na estranheza do filme, na sua globalidade. E se quase tudo remete para o deslumbramento de Wenders pela América, existe algo que é muito, digamos, não americano. Isto porque tanto se pode dizer que influenciado pelos mestres europeus como pelos grandes cineastas asiáticos (Japoneses sobretudo) que o alemão sempre venerou. Sinto isso no tratamento temporal dado aos planos de ligação, aos exteriores, bem como naqueles casos mágicos em que a decoupage mais clássica – planos/contra planos, etc. – parece dar lugar a uma maior contemplação e fixidez. Obviamente que nesses momentos o tempo entra e o filme torna-se outra coisa, mais palpável, mais atmosférico, ainda mais misterioso e perto das fantasias. E é uma calma, uma doçura, uma serenidade…
Nesses instantes, todos os signos e toda a fascinação fica suspensa ou fica dentro de um outro tempo. Wenders a dominar as durações e os ritmos, nesta altura de maneira única. É por aqui que filmes como este, ou como depois “Paris Texas”, não se parecem com muita coisa, apesar de pegarem e convocarem tantas outras.
3 comentários:
Considero que o Wenders da fase americana não chega aos calcanhares do da fase alemã, mas mesmo assim fiquei curioso.
também eu. mas atenção, este Wenders é da fase alemã.
Ai é?!! Pensei que fosse da fase americana. Assim ainda fiquei mais curioso.
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