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James Mangold tem a mão terna e sensível dos grandes
cantadores, Whitman ou Frank Capra
Cantadores que são contadores de histórias simples e
extraordinárias ao pé da lareira
A Complete Unknown é uma crónica dos bons sentimentos
Da busca do tempo perdido para ainda tentar salvar este
tempo
O olhar sempre convulso, viajante e temerário do Dylan de
Chalamet
O olhar e todos os poros suplicantes por humanidade do Pete
Seeger de Norton
Esse Peter Seeger que dá tudo de si para tudo ser possível
para o Outro
Totalmente disponível, apagado, simples e magnânimo,
porventura a maior personagem de Mangold deste Sly
As visitas ao hospital para estar com o príncipe dos Outros,
Woody Guthrie
A disponibilidade absoluta, o tempo paralisado, a partilha
sem nome
O reconhecimento e a paz
O Tempo das Suaves (e Corajosas e Vitais) Raparigas, o
furacão da Baez de Monica Barbaro e o anjo clamante da Sylvie de Elle Fanning
O platónico e o carnívoro, os olhares puros com Sylvie e os
cantares cortantes com Baez
No centro de um turbilhão musical e oral, e depois eléctrico,
as coisas que não se dizem, só se entreveem, sussurradas, percebidas, absolutas
A guerra fora do campo e a guerra pessoal, víscera, que têm
a mesma importância
O fim do mundo e o começo do mundo
Eu sou um Outro, Rimbaud
A necessidade de se morrer e de se nascer constantemente
Mangold é um classicista esburacado e terno guerreiro, com
as tremendas elipses no coração gigantesco
A despedida final a Woody que não é despedida mas sim assunção
e plenitude, o gesto de amor no cabelo ou no rosto, como num filme do outro
Frank, o Borzage
Foi assim no conto de fadas justiceiro que é Copland
Foi assim até na danação de Logan
Foi assim no embate nuclear entre carne, inteligência, ciência
e medo do Ford v Ferrari
A técnica só é técnica e só interessa quando existe vida
além da artificial
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