quarta-feira, 14 de maio de 2025

para James Mangold, forever

 




James Mangold tem a mão terna e sensível dos grandes cantadores, Whitman ou Frank Capra

Cantadores que são contadores de histórias simples e extraordinárias ao pé da lareira

A Complete Unknown é uma crónica dos bons sentimentos

Da busca do tempo perdido para ainda tentar salvar este tempo

O olhar sempre convulso, viajante e temerário do Dylan de Chalamet

O olhar e todos os poros suplicantes por humanidade do Pete Seeger de Norton

Esse Peter Seeger que dá tudo de si para tudo ser possível para o Outro

Totalmente disponível, apagado, simples e magnânimo, porventura a maior personagem de Mangold deste Sly

As visitas ao hospital para estar com o príncipe dos Outros, Woody Guthrie

A disponibilidade absoluta, o tempo paralisado, a partilha sem nome

O reconhecimento e a paz

O Tempo das Suaves (e Corajosas e Vitais) Raparigas, o furacão da Baez de Monica Barbaro e o anjo clamante da Sylvie de Elle Fanning

O platónico e o carnívoro, os olhares puros com Sylvie e os cantares cortantes com Baez

No centro de um turbilhão musical e oral, e depois eléctrico, as coisas que não se dizem, só se entreveem, sussurradas, percebidas, absolutas

A guerra fora do campo e a guerra pessoal, víscera, que têm a mesma importância

O fim do mundo e o começo do mundo

Eu sou um Outro, Rimbaud

A necessidade de se morrer e de se nascer constantemente

Mangold é um classicista esburacado e terno guerreiro, com as tremendas elipses no coração gigantesco

A despedida final a Woody que não é despedida mas sim assunção e plenitude, o gesto de amor no cabelo ou no rosto, como num filme do outro Frank, o Borzage

Foi assim no conto de fadas justiceiro que é Copland

Foi assim até na danação de Logan

Foi assim no embate nuclear entre carne, inteligência, ciência e medo do Ford v Ferrari

A técnica só é técnica e só interessa quando existe vida além da artificial


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