quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

arte da mise-en-scène




«…como verdadeiro social-democrata, e profundamente secular, achava ultrajante que uma tão maravilhosa “mise-en-scène” pudesse estar ao serviço de um assunto tão inútil.»

J.L.G


Estas ideias de Bazin referem-se a “Shadow of a doubt” e a “Notorious”…eu penso mais em”
The Lady Vanishes” ou “Life Boat”, puros gestos estilísticos, ou como lhe prefiro chamar: a arte da mise-en-scène, que muitos julgam não bastar por si.
Ainda ontem, em conversa com um grande cinéfilo, nos lembramos de como João Lopes, ao considerar Casino, de Scorsese, o melhor filme dos anos 90; ou como em qualquer outro lado ele defendia o “Ocean´s 11”, de Soderbergh, como uma portentosa lição de mise-en-scène, precisamente, dizendo qualquer coisa como: «quando Picassso pintava uma peça de fruta, todos achavam uma obra-prima” (cito de cor); ou de como ligava o mesmo Casino á obra, precisamente de Hitchcock ou de Godard: “Repor a ordem no caos que é este mundo”.

A minha opinião é esta: hoje em dia haverá, ainda mais que no período clássico, um elemento que têm que prevalecer junto da pura mise-en-scène ou exercício estilístico: a duração; ou gravidade.
É o que separa, por exemplo, os excepcionais planos do filme dos Coen, dos planos dos anúncios dos perfumes, ou do Moulin Rouge.
A arte da duree. De fazer durar uma imagem, de a ligar com a seguinte, com uma lógica intrínseca.

E se estes filmes, que tanto amo, do Hitch, como amo o Notorious, os propósitos, ou o assunto não tem a gravidade ou a vertigem de objectos como “Vertigo”, ou mesmo coisas mais lúdicas como “Correspondente de Guerra”, valem pelo absoluto domínio da arte mais primordial do cinema: pôr em cena (ambos começam com monumentais planos sequência; e o beijo mais virtuoso que o cinema já produziu no filme de 1946) ; bem como daquilo que o distingue das outras artes: a montagem, o trabalho sobre o tempo. E são filmes preciosos e monumentais.
Mas é preciso o génio, o génio, para quê? Para que não resvale para a palhaçada inútil.

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