segunda-feira, 27 de abril de 2009

um mistério…



"Der Rosenkönig", Werner Schroeter, 1986
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Ou como disse João Bénard da Costa, “filme que luz”. Isso e umas palavras de Pedro Costa, a propósito dos filmes de António Reis e Margarida Cordeiro, “Não posso deixar de os ver sempre assim, ignorante de títulos, cenários, assuntos, histórias. Sei que, fatalmente, estarei sempre em igualdade com o momento visto, sem mais nem menos armas, sem mais nem menos emoções que aquelas defronte de mim. Só o presente existe, um fio sem origem nem morte. É comovente porque é uma pura experiência sensual da durée. O rapazinho de ANA... repare como o seu delírio febril parece eternizar-se. Todos os espaços reais e mágicos – quarto, capoeira, falésia - tornam-se a mesma coisa e já outra coisa, animados pela terrível energia dessa vida das formas que ele tanto respeitava e que lhe retribuía todos os segredos e todas as audácias. Eis um rapazinho perdido, suspenso no espaço imenso. Eis o próprio espaço imobilizado. O que o António e a Margarida tentam fazer é curá-lo da sua doença, que é o tempo.”

Não sei que diga, mas estas palavras vieram-me constantemente à cabeça durante a projecção deste filme de Werner Schroeter. Acontecem-me destes raccords inesperados, que na altura fazem sentido absoluto, mas, pondo em perspectiva, nada mais verdadeiro para mim…é a doença do tempo/espaço suspensa, a ausência de uma narrativa castradora ou significante, é a entrada no mundo onírico das imagens e dos sons que só o cinema assim pode aglutinar. Uma perdição e uma descida libertadora ao desconhecido que nada mais é do que uma desmesurada inversão dos pressupostos habituais, aqui toda a pressão das leis e dos cânones ficam em elipse para sentirmos a febrilidade e a duração do momento, a sensualidade também. Pulsões, duração, suspensão…

4 comentários:

Júnior disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Olha só:

http://www.chronicart.com/webmag/article.php?id=1543

Álvaro Martins disse...

Que coincidência!!! Arranjei esse filme ontem, mas ainda não o vi.

José Oliveira disse...

muito, muito bom Luan. Luc Moullet é mestre.